Crise hídrica dos anos 60: como a lei 417 salvou Cordeirópolis

Um gertrudense daria uma verdadeira luz para Cordeirópolis nos anos 60. Luiz Beraldo, nascido em 10 de maio de 1921 em Santa Gertrudes, foi o prefeito que mudou o rumo da cidade ao enfrentar uma das maiores crises hídricas da época. No dia 16 de junho de 1965, Beraldo sancionava a Lei Municipal nº 417. Pouca gente sabe, mas aquele documento marcou a história de Cordeirópolis: foi o passo decisivo para garantir abastecimento de água tratada à população, algo que até então era um desafio diário. O plano para não deixar a cidade sem água Na gestão de Luiz Beraldo, a água virou prioridade absoluta. Três vertentes foram pensadas: Ele defendia a ideia de aproveitar a força da gravidade para facilitar o escoamento, explorando a diferença de altitude entre a represa do Cascalho e o centro da cidade. Em dias de chuva forte, Beraldo costumava observar os alagamentos na estrada do Barro Preto, onde o Ribeirão Tatu transbordava. A cada visita, reforçava em sua mente: aquele ponto tinha potencial para uma grande represa. E, anos depois, ele transformou a visão em realidade. O empréstimo que mudou a história Nos anos 60, Cordeirópolis crescia, mas o abastecimento de água não acompanhava o ritmo. A solução foi ousada: contrair um empréstimo milionário junto à Caixa Econômica do Estado de São Paulo. O valor aprovado impressionava: Cr$ 21.552.064 (vinte e um milhões, quinhentos e cinquenta e dois mil e sessenta e quatro cruzeiros), uma verdadeira fortuna para a época. O objetivo era claro: captar, distribuir e oferecer água de qualidade para a população. Em 1965, o Brasil vivia com uma inflação de cerca de 40% ao ano. Isso significava que o valor precisava ser aplicado rapidamente, antes que o dinheiro perdesse força de compra. As condições do acordo O contrato do empréstimo estabelecia: Era uma aposta arriscada, mas necessária. Cordeirópolis não poderia se desenvolver sem resolver primeiro a questão da água. Fiscalização e execução As obras seguiram os projetos técnicos do Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de Serviços e Obras Públicas do Estado de São Paulo, que fiscalizava desde a abertura das valas até a conservação das estruturas. Beraldo ou “Luizito”, como era chamado carinhosamente pelos moradores, governou Cordeirópolis de 1965 a 1969. A represa do Barro Preto e o sonho de uma ilha O desejo de represar o Ribeirão Tatu ganhou forma na Represa do Barro Preto. Anos mais tarde, um projeto de lei de autoria da ex-vereadora Mariana Fleury Tamiazo (PL nº 50/2021) oficializou o nome da represa como “Luiz Beraldo”, homenagem a quem idealizou a obra. Quando construiu a represa, Beraldo acompanhou de perto as máquinas trabalhando: caminhões, moto-niveladoras, pás-carregadeiras. A poeira levantada anunciava o progresso. Em seus planos, ele chegou a sonhar com uma ilha artificial no centro da represa, equipada com lazer, pedalinhos e restaurante. Hoje, tomada pela vegetação, essa ilha é um vestígio desse sonho. A represa foi inaugurada em 1968 junto com quem seria o seu sucessor, Teleforo Sanches. E a inauguração ficou marcada não por egos políticos, mas por união: os dois celebraram juntos com a população. Luizito mergulhou na água represada ao lado de autoridades e convidados. Uma área de aproximadamente 7 alqueires que nascia para abastecer a cidade e principalmente atender às indústrias, que pressionavam por soluções diante da escassez hídrica. Um divisor de águas A aprovação da Lei nº 417 foi o que permitiu a modernização do sistema hídrico de Cordeirópolis. A cidade não apenas garantiu qualidade de vida à população, mas também se preparou para crescer com segurança. Foi, de fato, um divisor de águas no sentido literal e no histórico. Mensagem “Entre sonhos e concreto, a represa nasceu — e com ela a certeza de que a água sempre guiou o destino de Cordeirópolis.” E aqui entra você! O Tá no Arquivo resgatou esse documento histórico, mas ainda restam perguntas sem resposta: Se você tem fotos, lembranças ou relatos, compartilhe conosco. Sua memória pode completar esse capítulo essencial da história de Cordeirópolis.
O caminho das sesmarias: as terras que moldaram Iracemápolis

Este é mais um episódio inspirado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” do professor José Zanardo (2008). Aqui no Tá no Arquivo, seguimos dando nova forma aos fatos, trazendo uma leitura viva e emocionante sobre as origens da aconchegante cidade de Iracemápolis. Para quem quer acompanhar os episódios dos artigos, pode ler: Onde tudo começou: quando Iracemápolis era só água, mata e esperança. Terras de riqueza e promessa Quando falamos de Iracemápolis, precisamos lembrar que, muito antes de ser vila ou cidade, ela nasceu dentro de um território gigantesco chamado Sesmaria do Morro Azul. Esse pedaço de chão não era qualquer terra: era uma das mais férteis, produtivas e cobiçadas da região. A Sesmaria, ainda no século XIX, abrangia o que viria a ser três grandes fazendas: Morro Azul, Paraguaçu e Paramirim. Eram áreas de solo vermelho, perfeitas para o cultivo da cana-de-açúcar e para a instalação dos engenhos que adoçavam o Brasil. A divisão das terras Com a morte do Brigadeiro Jordão, herdeiro e proprietário da imensa Morro Azul, as terras foram repartidas. Assim, surgiram outras propriedades, como a Ibicaba e o Quilombo. Cada divisão carregava não só a terra, mas também a responsabilidade de sustentar famílias inteiras e dar vida a comunidades que começavam a nascer. De acordo com o professor Zanardo, a Ibicaba, sob a condução do Senador Vergueiro, se tornou pioneira: foi lá que imigrantes começaram a trabalhar em regime de parceria, substituindo o trabalho escravo por um sistema que mudaria para sempre a economia regional. A produtividade agrícola Essas terras eram celeiros de fartura. No recenseamento de 1822, já havia registro de 231 unidades habitacionais, centenas de engenhos e uma população que somava quase 1.500 pessoas, entre livres e escravizados. A cana-de-açúcar era a rainha da lavoura, seguida pelo milho e pelo feijão. Desses campos saíam toneladas de açúcar em três tipos: Tudo era transportado em lombo de burros até São Paulo, e de lá seguia para o Porto de Santos. Uma viagem que podia durar até 6 dias. O legado das sesmarias As sesmarias não foram apenas lotes de terra. Elas foram o berço de Iracemápolis. Dali nasceram os povoados, os primeiros comércios, as festas populares e até a mistura cultural que hoje define a identidade dos iracemapolenses. Cada fazenda deixou sua marca, seja na economia, na religião, nos sobrenomes ou na própria geografia da cidade. Quando olhamos para trás, é impossível não reconhecer: foi no Morro Azul e nas sesmarias vizinhas que tudo começou a ganhar forma. Convite a você leitor Essa história não é apenas sobre terras antigas, mas sobre raízes que ainda vivem em todo o povo. Você sabia que sua família pode ter vindo dessas fazendas? Reconhece algum sobrenome ligado ao Morro Azul ou à Ibicaba? Comente, compartilhe e ajude a manter viva a memória de quem construiu a cidade. Projeto Tá no Arquivo – resgatando as histórias que o tempo não pode apagar. Se você leu até aqui, não deixe de ler: Onde tudo começou: quando Iracemápolis era só água, mata e esperança.
Primeira Festa de Santo Antônio de Cordeirópolis após emancipação com luz elétrica na praça

Era setembro de 1949. Cordeirópolis ainda sentia o frescor da emancipação conquistada no fim do ano anterior, em dezembro de 1948. A cidade começava a escrever sua história como município independente, e nada poderia simbolizar melhor essa nova fase do que uma festa popular — a primeira Festa de Santo Antônio realizada após a emancipação. De acordo com registros do livro “Santo Antônio de Cordeirópolis“, de Mário Zocchio Pasotto (in memoriam), as celebrações aconteceram entre os dias 10 e 28 de setembro de 1949, e não em junho, como conhecemos hoje. Só em 1954 a data de junho seria consolidada oficialmente para as festas do padroeiro. A festa da luz Essa edição entrou para a memória como a primeira festa iluminada pela eletricidade na praça central. As ruas em frente à matriz ganharam intensidade e brilho sob a nova iluminação, que encantava moradores e visitantes. Era um marco: a fé se encontrava com a modernidade, e a praça transformava-se em palco de devoção e novidade tecnológica. O vigário da época organizou os festejos com zelo, dividindo a paróquia em zonas, cada uma com seus festeiros. A corporação musical “Primeiro de Janeiro” animava todas as noites, desfilando pelas ruas até a igreja, onde era recebida com salvas de 10 tiros, um espetáculo de som e emoção. As barracas, comandadas por professores, senhoras da sociedade e voluntários, davam sabor e cor ao evento: A tômbola, ponto alto da diversão, tinha à frente Dona Ondina Mosca, lembrada como uma das grandes colaboradoras da festa. A comissão organizadora À frente dos festejos estava uma comissão que reunia nomes de peso para o recém-criado município: Mais do que religiosos, aqueles festejos eram um marco de identidade e união de uma comunidade que começava a construir sua própria história. O mesmo mês, outro marco: Cascalho se une a Cordeirópolis Setembro de 1949 foi mesmo um mês histórico. No dia 10 de setembro, o bispo diocesano de Campinas, Dom Paulo, anexava oficialmente a paróquia de Cascalho à de Cordeirópolis, fortalecendo os laços espirituais e administrativos da cidade. “Fazemos saber que estando legitimamente impedido (i.é ausente) do território de sua paróquia de Cascalho o Revmo. Pe Luiz Stefanello, e desejando nós prover às necessidades espirituais temporais dos fiéis da referida freguesia, havemos por bem anexa-la à freguesia de Cordeirópolis e em virtude disso encomendamos ap Revmo. Pároco que procure do melhor modo possível atender às necessidades espirituais da dita freguesia, como esperamos do seu zelo e solicitude”. Um legado de fé e progresso Assim, a festa de 1949 não foi apenas uma celebração religiosa. Foi um marco cultural e histórico: a primeira festa de Santo Antônio de Cordeirópolis após a emancipação, a primeira iluminada pela energia elétrica, e um símbolo da força de uma cidade que nascia. Mensagem E assim brilhou a primeira festa iluminada de Cordeirópolis, um clarão de fé que ainda aquece nossas memórias. Se você gostou dessa memória, curta nossa página e ajude a manter viva a história de Cordeirópolis e região.Compartilhe com seus amigos e parentes que também valorizam nossas raízes.Juntos, espalhamos o passado para que nunca seja esquecido!
Onde tudo começou: quando Iracemápolis era só água, mata e esperança

Você já parou pra pensar no que existia aqui… antes das ruas, dos carros e das casas? Respira fundo. Fecha os olhos por um instante. Tenta imaginar: nenhuma avenida, nenhum poste, nenhuma igreja. Só mata fechada, rios de água cristalina e um silêncio cortado apenas pelos passos de quem desbravava a terra com o machado numa mão e o sonho na outra… Se você mora aqui, essa história é sua. Se você ama essa cidade, precisa conhecer o que a moldou. Compartilhe esse texto com alguém da família. Pergunte aos mais velhos: Você lembra disso? A gente te convida a viajar por um tempo esquecido mas que construiu tudo o que vemos hoje. Vamos juntos? O tempo em que tudo era água, barro e suor Antes de existir qualquer cidade, Iracemápolis era apenas parte de uma imensidão de terras férteis pertencentes à grande Limeira. Era o século XIX, e nossa região que hoje pulsa com escolas, comércios e avenidas — ainda era um misto de matas fechadas, animais selvagens e rios caudalosos. O chão era de barro vermelho. Os primeiros caminhos eram trilhas abertas a facão. As casas? Algumas feitas de barro e sapé. Era o começo de tudo e ninguém sabia que aquele pedaço de terra carregava uma promessa: a de se tornar um lar. Os rios Piracicaba, Corumbataí, Atibaia, Jaguari e Pirapitingüi corriam livres, alimentando as matas e garantindo a vida. Pequenos ribeirões como o Cachoeirinha, que até hoje existe — eram fontes de água, sustento e sobrevivência. Quem chegou primeiro? Os negros libertos por volta de 1840, que se fixaram nas encostas do Morro Azul. Ali nasceram os primeiros núcleos humanos. Depois, vieram os imigrantes europeus, portugueses, suíços, alemães e italianos em busca de algo simples: uma nova chance. A estrada da esperança Imagine o sacrifício: cada viagem até São Paulo levava até 6 dias. O transporte era feito no lombo de burros, cada um carregando 10 arrobas de açúcar. Não havia asfalto, nem sinal de telefone. Era barro, tropeços e coragem. Foi o Senador Vergueiro quem mudou esse cenário. Em 1823, ele conseguiu abrir uma estrada ligando o Morro Azul a Piracicaba. Isso encurtou caminhos, facilitou o escoamento da produção e atraiu mais gente para a região. A cana-de-açúcar era o ouro da época. Os engenhos do Morro Azul, da Ibicaba, da Geada e do Cascalho produziam açúcar em três tipos: branco, redondo e mascavo. E tudo era levado até Santos de onde o Brasil se conectava ao mundo. Gente que construiu com as próprias mãos Ninguém chegou aqui com tudo pronto. Cada metro quadrado foi conquistado com luta. Os portugueses vieram nas décadas de 1840. Trouxeram seus sobrenomes, tradições e a força dos braços. Depois vieram os alemães e suíços, entre 1852 e 1872. E por fim os italianos, aos milhares, entre 1887 e 1897. Você já ouviu algum desses nomes por aqui?Batiston, Buzolin, Bertanha, Batistela, Chinellato, Ometto, Furlan, Prada, Lucato, Giusti, Gazetta…Essas famílias fazem parte da nossa história. Da minha. Da sua. Eles trabalharam nas fazendas, cuidaram das lavouras, lavaram roupas no Ribeirão Cachoeirinha, criaram filhos, montaram igrejas e padarias, ensinaram a bocha, e deixaram marcas que ainda estão em cada esquina. E se a cidade esquecesse de onde veio? Talvez você esteja lendo isso agora sentado num banco da praça, no sofá de casa ou até numa padaria com nome italiano. Mas tudo o que está ao seu redor nasceu de um tempo em que não havia quase nada apenas a vontade de construir. Se a gente esquece de onde veio, a gente também perde o rumo pra onde vai. Por isso, o projeto Tá no Arquivo existe: pra resgatar a memória da nossa terra, provocar lembranças e valorizar a luta de quem veio antes. Você sabia? Convite especial Tem alguém na sua família que viveu essa época ou lembra de histórias parecidas?Marque essa pessoa. Compartilhe este artigo. E se você tiver fotos ou memórias desse tempo, envie para o nosso projeto no Tá no Arquivo. Vamos construir juntos o maior acervo de histórias de Iracemápolis.Porque o que nos une não são apenas ruas, mas raízes profunda. Continue seguindo a página para conhecer mais histórias de Iracemápolis e região. Este artigo é inspirado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” do professor José Zanardo, publicado em 2008 com apoio da Prefeitura Municipal. Aqui no Tá no Arquivo, estamos dando uma nova forma a essa história, traduzindo os fatos do livro para uma leitura mais viva, emocional e acessível. O conteúdo é o mesmo. Mas o jeito de contar… ah, esse é pra te fazer sentir, lembrar e se orgulhar de onde veio. Curta e compartilha.
Café, trilhos e progresso: o nascimento da Estação Cordeiro

O fim do século XIX marcou uma virada decisiva para a região que mais tarde se tornaria Cordeirópolis. Até então, o território era composto por grandes fazendas, onde o café já havia se transformado no motor da economia. Mas havia um desafio: o escoamento da produção até o porto, feito em tropas de burros, era caro, lento e arriscado. Foi nesse cenário que surgiu a ideia que mudaria a história local: a construção da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Em 1876, o trecho Campinas–Rio Claro foi inaugurado, trazendo consigo uma parada estratégica: a Estação Cordeiro, assim chamada por causa da antiga Sesmaria do Cordeiro, citada em registros anteriores. Essa estação não foi apenas um ponto de embarque e desembarque. Ela representou o início da integração da região ao progresso, encurtando distâncias, barateando custos e impulsionando a circulação de mercadorias e pessoas. Do café às oportunidades A ferrovia não apenas facilitou o transporte do café, mas também abriu caminho para novos ciclos de desenvolvimento. Ao redor da estação, começaram a surgir pequenos comércios, armazéns e moradias, formando o embrião do futuro centro urbano. Um ponto de encontro de culturas A proximidade com o Núcleo Colonial de Cascalho, reforçou ainda mais o movimento. Imigrantes chegavam, comerciantes se instalavam e trabalhadores avulsos encontravam oportunidade. A Estação Cordeiro virou o elo entre o campo e a cidade, entre o passado rural e o futuro urbano. O Núcleo Colonial “Cascalho” foi criado em 1884 pela Província de São Paulo no município de Rio Claro, cujo objetivo era assentar imigrantes europeus para abastecer as fazendas cafeeiras da região, além da mão de obra para a colheita do café. Os primeiros imigrantes a chegarem no Núcleo foram os alemães, suecos e austríacos, no entanto, o clima não foi favorável e poucos permaneceram e a ´partir de 1893, chegaram os imigrantes italianos e portugueses. A estação como marco histórico Mais que um edifício de tijolos e trilhos, a Estação Cordeiro foi símbolo de modernidade. Ela não apenas transportava produtos, mas também ideias, pessoas e sonhos. A partir dali, o nome Cordeiro passaria a ecoar como referência, plantando as sementes da futura emancipação do município.
Cordeirópolis nos anos 40: o teatro, o cinema e a música já encantavam a cidade

O cenário da cidade nos anos 30 e 40 Cordeirópolis, ainda chamada de “Cordeiro”, era um município pequeno, com apenas três ruas principais e pavimentação em paralelepípedo. O giro financeiro vinha basicamente do comércio, já que o restante da população vivia em colônias espalhadas pelas grandes fazendas. Segundo relatos de moradores da época, havia mais gente morando nas colônias do que no centro. E no coração da cidade, em cada esquina, um comércio mantinha a vida econômica ativa. Mas o que realmente fez a cidade se destacar foi a presença da Cia. Paulista de Estrada de Ferro. Suas imponentes locomotivas a vapor reuniam mais de 400 funcionários, transformando a pequena Cordeirópolis em um polo de movimento e progresso. Essa lembrança foi registrada em entrevista ao Jornal Expresso pelo ex-prefeito Teleforo Sanches (já falecido), que, aos 85 anos, contou que chegou a Cordeirópolis em 1927, quando seu pai abriu uma padaria na esquina das ruas Visconde do Rio Branco e José Bonifácio. A força da cultura em uma cidade pequena Apesar do tamanho modesto, Cordeirópolis respirava cultura, arte e lazer. O cinema, a música e principalmente o teatro movimentavam a vida social da cidade. As apresentações eram feitas por amor, dedicação e entusiasmo — tudo improvisado e artesanal. Os cenários, muitas vezes montados com papelões e panos pintados à mão, levavam horas, até dias, para ficarem prontos. Os atores, amadores, eram também cenógrafos, iluminadores e até marceneiros de palco. O saudoso José Valdir Vidoretto, o “Miúdo”, lembrou em entrevista ao Expresso de um dos grandes momentos da época: “Me recordo da encenação da Paixão de Cristo por volta de 1978. Foram sete dias inteiros preparando o cenário da crucificação, mas a cena durou apenas seis minutos.” As primeiras grandes peças teatrais Segundo depoimentos de antigos moradores, o auge do teatro local começou na década de 1940. O pioneirismo marcou a memória de muitos. O também saudoso Moacir Hespanhol, aos 83 anos, ( já falecido) contou sobre uma das primeiras montagens: “Branca de Neve e os Sete Anões”. “Nunca me esqueço… fomos apresentar em Leme e percebemos que tínhamos esquecido a espingarda do caçador. Eu era o caçador! Tive que improvisar e disse que mataria a Branca de Neve enforcada”, relembrou entre risos. O elenco que entrou para a história Na foto histórica de 22 de agosto de 1940, registrada em arquivo de Osvaldo Hubner, estão os atores que deram vida ao conto de fadas: Um legado que ecoa até hoje Essas histórias mostram que Cordeirópolis, mesmo pequena, sempre teve uma veia cultural forte. O improviso, o talento e a paixão pelo espetáculo construíram memórias que atravessaram gerações — e que agora estão guardadas no Tá no Arquivo. E você, já conhecia essa parte tão viva da história cultural de nossa cidade? *Esta reportagem foi originalmente publicada no Jornal Expresso em 2008 e chega agora ao Tá no Arquivo com uma nova leitura, mais fiel às memórias de quem viveu a época.
Cascalho – palco de espetáculos, bandas e memórias inesquecíveis

Reportagem reproduzida do Jornal Expresso (2008) Muito antes de Cordeirópolis se tornar município, o bairro de Cascalho já respirava movimento, cultura e tradição. Imigrantes se estabeleceram por lá em peso, e por pouco o bairro não se tornou o centro urbano da futura cidade. “A primeira reforma agrária do Brasil aconteceu em Cascalho”, contou em 2008 o morador Antonio Paiola, o Nego, em entrevista ao Jornal Expresso. “As ruas foram divididas para virar a cidade. Até a ferrovia deveria passar por aqui, mas acabou ficando em Cordeiro.” E realmente, Cascalho tinha vida própria: fábrica de cerveja , armazéns, farmácia, padaria, dentista e até o famoso conjunto musical “Jazz de Cascalho”, que animava bailes nas fazendas. Famílias fabricavam para consumo próprio: vinhos de uva que vinham de Jundiaí , vinho de laranja artesanal, açúcar mascavo, pinga nos engenhos e até fumo de corda. Era o bairro pulsando entre trabalho, fé e diversão. Cultura em destaqueCascalho não se resumia a comércio e produção: tinha teatro, peças dirigidas por Jacob Tomazella, apresentações de comediantes como Ermindo Peruchi e, claro, suas famosas bandas.Foram três gerações de bandas que marcaram época, regidas por nomes como José Della Coletta, José Paiola Filho e José Minatel. O “Jazz de Cascalho” completava o espetáculo com pandeiro, cavaquinho e saxofone, embalando os bailes de 1949 a 1952. As vozes de Orlando Paiola e Antonio Orzari, os “gargantas de ouro”, ainda ecoam na memória dos mais antigos. Esporte e lazerCascalho também tinha seus times de futebol — Citrus F.C. e Cascalho Futebol Clube — além dos tradicionais campos de bocha, que animavam as tardes do bairro. Terra fértilEntre plantações e criação de bichos-da-seda, o bairro se mantinha produtivo e criativo. Cascalho, mais do que um bairro, foi um verdadeiro cenário de espetáculo, trabalho e convivência que ajudou a escrever a história de Cordeirópolis. E você, já ouviu falar do Jazz de Cascalho, das bandas ou dos bailes que aconteciam no bairro?Conta pra gente nos comentários. Foto original. Observação: Na capa usamos IA para melhorar a qualidade da foto.
Cordeirópolis pode ter mais de 200 anos? Uma história que desafia os registros oficiais

Você sabia que Cordeirópolis pode ser muito mais antiga do que imaginamos?Embora o marco oficial de fundação seja o ano de 1886, existe a possibilidade de que a cidade tenha mais de 200 anos de história, segundo memórias preservadas por antigos moradores. Em uma reportagem especial publicada pelo Jornal Expresso em janeiro de 2008, foi registrado um valioso depoimento do senhor Antonio Reinaldo Meneghin, que na época contava aos 88 anos de idade. Ele faleceu alguns anos depois, mas deixou um relato rico e convincente, baseado nas histórias que ouviu de seus bisavós ainda na infância, sobre o antigo povoado chamado “Cordeiro”. Apesar de os registros históricos mais concretos virem das pesquisas do historiador Paulo César Tamiazo, que identificou no jornal O Estado de São Paulo, datado de 14 de março de 1886, a notícia sobre o início das obras da Capela de Santo Antônio dos Cordeiros origem reconhecida do povoado , os relatos do senhor Meneghin trazem luz a uma história ainda mais remota.Afinal, se a capela seria construída, é sinal de que já havia um povoamento anterior organizado na região. “Cordeiro” antes da fundação: memórias de um tempo esquecido O senhor Meneghin revelou na entrevista: “Meu avô sempre contava que por aqui passaram os Bandeirantes. O governador da época mandava que as pessoas viajassem 47 léguas para o norte do Estado, e eles vinham parar aqui, onde montaram uma fábrica de cordas”. Segundo ele, essa fábrica de cordas estaria localizada onde hoje é a avenida Wilson Diório, nas proximidades do atual posto de gasolina. O senhor ainda relatou que no local havia uma roda d’água usada para enrolar os fios, tecnologia comum na época colonial. Embora esses relatos não tenham comprovação documental, é importante lembrar que muito da história antiga não foi registrada oficialmente, e muitas vezes se perpetuou apenas na memória dos moradores. Isso nos permite considerar com carinho e atenção essa possibilidade: a de que Cordeirópolis possa ter sido habitada e desenvolvida muito antes de 1886. O que os documentos revelam A pesquisa feita por Tamiazo revelou que cinco dias antes da publicação da notícia no jornal O Estado de São Paulo, ou seja, em 9 de março de 1886, haviam começado os trabalhos de construção da capela o que hoje é a Igreja Matriz de Santo Antônio. Esse fato, considerado o marco inaugural do município, corrige o equívoco histórico que constava no brasão e na bandeira da cidade, que indicavam 1889 como data de fundação. Após as comprovações, a Câmara Municipal ajustou oficialmente a lei dos símbolos municipais em 1993. Curiosamente, antes dessa descoberta no jornal, já existia um documento datado de 30 de março de 1886, que registrava a venda de terrenos no então povoado. Isso reforça ainda mais a ideia de que o povoamento já existia antes da fundação oficial, corroborando parte do que foi contado pelo senhor Meneghin. Antes de Cordeirópolis, um mar de fazendas Muito antes da cidade, a região era terra de grandes propriedades rurais. Já em 1817, o Governo de São Paulo começava a oficializar as posses. Foi assim que surgiram nomes importantes como a Fazenda Ibicaba e a Sesmaria do Cascalho. O solo que hoje calça ruas e avenidas foi, um dia, cenário da transição entre cana-de-açúcar e café. E foi o café que acabou mudando tudo: exigiu infraestrutura, atraiu mão de obra e aproximou o interior do mundo. O trem que mudou o destino – 1876 Campinas e Rio Claro foram conectadas pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. E no meio do caminho, uma parada: a Estação do Cordeiro. Ali, onde hoje passam carros e moradores apressados, o apito do trem anunciava progresso. Era o início do adensamento urbano. Era o prenúncio da cidade. Cascalho – o bairro que impulsionou o crescimento Você sabia que o bairro Cascalho foi o primeiro núcleo colonial oficial do Estado de São Paulo?Sim, fundado em 1884, a partir de terras compradas de Domingos Nogueira Jaguaribe, o núcleo foi criado para acolher imigrantes em um Brasil recém-saído da escravidão. Cascalho trouxe movimento. Gente nova. Comércio. Produção. E mais do que isso: consolidou a Estação do Cordeiro como ponto vital da região. De povoado à Capela de Santo Antônio do Cordeiro Enquanto Cascalho florescia, outro nome começava a se fixar: Manoel Barbosa Guimarães. Foi ele quem loteou terras próximas e deu início ao que seria o núcleo urbano da futura cidade, nomeado como Capela de Santo Antônio do Cordeiro, provavelmente em 1885. O pequeno comércio crescia, os trilhos levavam e traziam esperança, e a capela reunia moradores em fé e festa. O nascimento oficial e a mudança de nome – 1899.Comércio se fortalecendo e agricultura pujante fizeram a vila se tornar distrito de paz. Foi reconhecida pela Lei Estadual nº 645. Anos depois, em 1943, por plebiscito, o nome mudou: de Cordeiro para Cordeirópolis, agora com o “polis” de cidade, de povo. Em 1948, o ciclo se completava. Cordeirópolis se tornava município independente por meio da Lei Estadual nº 233, sancionada em 24 de dezembro. Um presente de Natal histórico. Seda, cerâmica e o futuro Poucos sabem, mas o primeiro parque industrial de Cordeirópolis surgiu com a produção de seda. Depois, a cidade foi se reinventando, e a cerâmica se tornou a nova força econômica. Hoje, no ano de 2025, se aproximando dos 140 anos de história (considerando oficial), a cidade continua sendo escrita — pelas mãos dos que chegaram, dos que ficaram e dos que não esquecem suas raízes. Conclusão Cordeirópolis não começou com asfalto e semáforos. Começou com fé, imigração, estrada de ferro e uma capela. Começou com coragem. Queremos saber: você conhece histórias antigas da cidade? Tem fotos, lembranças ou curiosidades da época da Estação do Cordeiro ou da Capela de Santo Antônio? Mande pra gente. Aqui, a memória não se perde. Ela se eterniza. Porque se a história é boa, Tá no Arquivo.
Você conhece a história das famílias italianas que perderam filhos durante a viagem ao Brasil?

O Choro de Roberto Rosolem – Além do Mar Na quietude abafada da Fazenda Santa Thereza, perdida no coração da província de São Paulo, um homem permanecia imóvel, os olhos fixos na terra vermelha que cobria seus sapatos gastos. Seu nome era Roberto Rosolem, e trazia nos ombros mais do que o peso de sua própria história — trazia a de uma geração inteira de homens e mulheres que haviam deixado tudo para trás em nome de um sonho. Veio da Itália, como tantos outros, em busca de uma vida melhor. Deixou a aldeia, a casa humilde, o cão no quintal, e embarcou com a esposa, os filhos e a esperança. O que encontrou, porém, foi algo para o qual nenhum deles estava preparado. A viagem foi uma travessia de tormenta. Durante quatro dias, as ondas chicotearam o casco do navio como se tentassem expulsá-los de volta para casa. No porão, o ar era espesso, os corpos amontoados, as crianças febris. Dormiam pouco, suavam muito. A cada nascer do sol, mais um olhar perdia o brilho, mais uma mãe apertava o filho contra o peito, temendo o silêncio súbito. Quando finalmente desembarcaram em Santos, o ar parecia menos salgado, mas ainda carregado de incerteza. A primeira voz italiana que ouviram era seca, dura — e avisava: “Aqui, não é o paraíso.”Na Casa da Imigração em São Paulo, a multidão era assustadora. Mais de dez mil almas dividindo espaço e desespero. Roberto caminhava entre famílias que dormiam em cima de mesas, crianças deitadas em chão frio, mulheres chorando nos cantos. Naquela noite, ele também chorou. E pela primeira vez, sentiu vergonha por ter trazido seus filhos ali. Foram levados à Fazenda Santa Thereza dias depois. Ao chegar, encontraram tudo — menos abrigo. Amontoados com outras 138 pessoas em uma única casa, viveram seus primeiros dias sob calor, insetos e escassez. Não havia consolo. O que havia era perda. Roberto, que embarcara com onze filhos, agora contava apenas cinco. Os demais ficaram pelo caminho, levados por febres tropicais, falta de atendimento, fraqueza.Via os pequenos italianos da fazenda com os pés feridos, infestados por bichos, as pernas inchadas, o choro constante. O horror tomou-lhe o corpo inteiro. Ele, que queria construir um futuro, sentia-se agora culpado por cada passo daquela jornada. Queria voltar. Gritava em silêncio para voltar. Se pudesse, desfaria o tempo, desceria do navio, abraçaria o cão que ficou. Preferia mil mortes na Itália a um só dia naquela América estranha e indiferente. Mas ele permanecia. Porque ainda tinha filhos. Porque ainda tinha amor. E porque, mesmo sem querer, a vida insistia em continuar. No final da tarde, sob a sombra fraca de uma árvore nativa, escreveu uma carta. Destinou-a ao patrão de outrora, o doutor Ferdinando Chisini. Não pediu dinheiro. Não pediu ajuda. Pediu orações. Pediu que rezassem por eles, os que ficaram. Para que tivessem saúde. Para que, quem sabe, um dia pudessem voltar para casa. Para que um dia, alguém soubesse o que viveram ali.Não como números, mas como gente. Gente que chorou. Gente que sonhou. Gente que ficou. Nota Final Esta narrativa é a adaptação literária da carta escrita por Roberto Rosolem, um imigrante italiano que chegou ao Brasil em 1897. É a história de uma família que contou sua trajetória vinda da Itália, com suas emoções, expectativas, dores e também alegrias. O conteúdo foi extraído do vídeo produzido pela Associação Trevisani nel Mondo e recriado com o auxílio da inteligência artificial, com o objetivo de trazer emoção a essa memória da imigração italiana no Brasil. Acompanhe também o nosso canal Tá no Arquivo. Assista também uma reprodução do Tá Arquivo clicando aqui.
