A estrada secreta que encurtou o tempo e mudou o destino de Iracemápolis

Você sabe por que essa estrada foi chamada de a ‘veia do açúcar’ do interior paulista? Continue aqui na página e descubra o motivo. Senador Vergueiro e a estrada que mudou tudo Mais um capítulo baseado em “Iracemápolis: Fatos e Retratos” de José Zanardo (2008). Aqui no Tá no Arquivo, contamos essa parte da história sob um novo olhar — o dos caminhos, das rotas, do transporte que abriu o mundo pra gente. O desafio de ligar as terras ao mundo No início do século XIX, produzir era uma coisa levar o que se produzia para mercados era outra completamente diferente. As estradas eram trilhas estreitas, lama em épocas de chuva, subidas difíceis. Nem sempre se podia contar com pontes ou caminhos consolidados. Com o açúcar vindo das sesmarias (Morro Azul, Paraguaçu, Paramirim e Ibicaba), era urgente ter rotas melhores para transportar produtos, açúcar, aguardente, mantimentos até aos centros maiores como Piracicaba, Campinas e São Paulo. Era logística pesada: burros, carroças, atoleiros. Vergueiro e a estrada do Morro Azul a Piracicaba Foi o Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro quem percebeu que, sem estradas, o potencial da região ficava preso. Segundo Zanardo, a estrada Morro Azul–Piracicaba entrou em cena por volta de 1823, encurtando distâncias, reduzindo tempo e custos de transporte. (Zanardo, livro) Essa estrada abriu portas: possibilitou escoamento mais rápido dos engenhos, permitiu que pessoas se deslocassem com mais liberdade, fortaleceu o comércio. Não era só uma estrada de terra era o passaporte para crescimento. Outras conexões da época: estrada para Campinas e pontes Fontes externas dizem que a ligação entre Morro Azul e Campinas também foi essencial. A estrada Morro Azul–Campinas teria sido aberta em torno de 1823–1826. (Vitruvius). Para cruzar rios como o Jaguari e o Atibaia, foram construídas pontes, algo que só se completou efetivamente em 1826. Essas pontes transformaram os caminhos: deixaram de ser obstáculos e se tornaram parte da estrutura que ligava comunidades Curiosidades de bastidor Que mudança isso trouxe? A construção da estrada significou: Para Iracemápolis e toda a região, isso foi decisivo: sem essa estrada, talvez muitos dos engenhos e sesmarias tivessem ficado à margem da história, porque não haveria como tirar seus produtos ou conectar comunidades. Convite ao leitor Já imaginou quantas vidas foram tocadas por essa estrada? Quantos carregamentos de açúcar atrasados, quantos caminhos inacessíveis?Se alguém da sua família viveu perto dessas vias ou estrada antiga, conta pra gente! Compartilhe essas histórias ou fotos. Quer saber mais? Continue no Tá No Arquivo. Vale a pena conhecer tudo!
150 anos depois: o que restou da Estrada de Ferro Sorocabana e o que ainda pode voltar?

Foram os trilhos que uniram cidades, histórias e vidas. A Estrada de Ferro Sorocabana, inaugurada em julho de 1875, completa 150 anos e continua sendo símbolo de desenvolvimento e luta. O sonho inicial era escoar o algodão, mas logo os vagões passaram a carregar café, mercadorias e passageiros, conectando o interior paulista ao litoral e impulsionando a economia não apenas do estado, mas de todo o país. Com mais de 800 km de linha tronco, a Sorocabana ligava São Paulo a Presidente Epitácio, passando por cidades como Sorocaba, Botucatu, Ourinhos, Assis e Presidente Prudente. Ramais estratégicos, como o de Itararé (até o Paraná) e o de Jurubatuba (hoje Linha 9-Esmeralda da CPTM), reforçavam a integração. Outro trecho importante foi o que ligava Mairinque a Santos, fundamental para o escoamento da produção agrícola e industrial. Mas nem tudo foram conquistas fáceis. A ferrovia também foi palco de greves históricas entre 1914 e 1919, marcadas por jornadas exaustivas, baixos salários e a luta por dignidade. Foi nesse contexto que nasceu a força sindical que até hoje resiste. O Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana, fundado em 1932, tornou-se uma das maiores entidades sindicais da América do Sul. Fechado por Vargas em 1940, renasceu e deu origem ao atual Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana, reconhecido oficialmente em 1974 e que hoje completa 50 anos de história. Sob a presidência de José Claudinei Messias, o sindicato segue firme na defesa dos trabalhadores da base Sorocabana, CPTM e empresas privadas. Representa ativos e aposentados, enfrenta a precarização e acompanha os processos de concessão e privatização, sempre em busca de garantir que o suor de quem construiu os trilhos não seja esquecido. Hoje, parte da malha foi concedida à iniciativa privada com a Rumo Logística no transporte de cargas, a CCR (MOTIVA) operando linhas da CPTM e metrô, e até o VLT da Baixada Santista sob administração da BR Mobilidade. Mas a luta sindical continua: ferrovia é mais do que transporte, é patrimônio, é história e é futuro. O Sindicato dos Ferroviários da Zona Sorocabana honra cada trabalhador que, ao longo de 150 anos, deixou sua marca nos trilhos que ajudaram a erguer cidades e transformar a vida de milhares de pessoas. Tá no Arquivo resgata, mas também valoriza quem mantém essa memória viva: o trabalhador ferroviário. Este artigo é uma reprodução do Sindicato dos ferroviários da Estrada de ferro Sorocabana.
A cerveja que nasceu em Cordeirópolis: memórias de uma fábrica esquecida

Pouca gente sabe, mas Cordeirópolis já teve a sua própria fábrica de cerveja. Um detalhe curioso e quase esquecido da história local que ajuda a mostrar como o município sempre teve espírito empreendedor. Segundo relatos preservados no Tá no Arquivo e lembrados em reportagem de 2008, a cervejaria funcionava por volta de 1890, quando o então “Cordeiro” ainda era um pequeno distrito cercado por fazendas e colônias. Onde ficava a fábrica? A antiga fábrica iniciava suas instalações na rua Carlos Gomes, na altura da atual farmácia Drogacentro, e seguia até a esquina com a rua Toledo Barros, onde na época havia a casa da família Pagoto. Era um quarteirão movimentado, que misturava comércio e inovação industrial. Ali, em plena virada do século XIX para o XX, a produção de cerveja acontecia em escala regional, atendendo consumidores locais e das cidades vizinhas. A bebida e o contexto da época Produzir cerveja no interior paulista no final do século XIX era ousado. A bebida, antes restrita a grandes centros e famílias endinheiradas, começava a se popularizar. Enquanto a produção artesanal crescia em pequenas cidades, grandes marcas ainda davam seus primeiros passos no Brasil. O “Cordeiro” não ficou de fora desse movimento. A cervejaria local mostrava que havia espaço para inovação e prazer nos encontros sociais da época, seja nas festas populares, nos bailes ou nos bares que começavam a surgir. O que restou? Com o tempo, a fábrica fechou suas portas. Não há registros exatos sobre sua duração, nem fotografias conhecidas de sua produção. Restaram apenas memórias orais, transmitidas por famílias e preservadas em entrevistas como a de Antonio Reinaldo Meneghin (in memoriam), que fazia questão de manter viva a lembrança desse pedaço da história. Hoje, no local, restam apenas os comércios modernos. Mas o terreno guarda a marca silenciosa de uma das primeiras tentativas de industrialização em Cordeirópolis. Um brinde à memória Falar da antiga fábrica de cerveja é brindar ao passado da cidade. É lembrar que Cordeirópolis já ousava sonhar em produzir algo que unia pessoas e embalava momentos de convivência. Quem sabe, um dia, essa memória não inspire novos empreendedores a escrever mais um capítulo dessa história com sabor local? Veja também Esta lembrança foi registrada no Jornal Expresso em 2008.Veja a edição completa do jornal impresso da época
Fogos no céu e cerveja na mesa: a história pouco contada sobre as indústrias de Cordeirópolis

Você sabia que Cordeirópolis já teve fábrica de fogos de artifício e até de cerveja? Veja essa reportagem no Tá No Arquivo Em janeiro de 2008, o Jornal Expresso (hoje Martello News) trouxe à tona memórias valiosas guardadas por cordeiropolenses que testemunharam a transformação da cidade. Entre eles, os irmãos Antonio Reinaldo Meneghin e Nice Meneghin, além do empresário Teleforo Sanches todos já in memoriam. Seus relatos são um convite a revisitar um tempo em que Cordeirópolis, ainda chamada de “Cordeiro”, dava os primeiros passos rumo ao desenvolvimento. Essas lembranças foram reunidas na série “Retratos do Passado”, e hoje o Tá no Arquivo traz novamente à vida essas histórias que misturam suor, fé, indústria e tradição. As raízes da cidade Cordeirópolis nasceu oficialmente em 24 de dezembro de 1948, com a emancipação político-administrativa reconhecida pela Lei Estadual nº 233. Mas sua história já se desenhava muito antes. Documentos de 1822 registram colonizadores ligados à Fazenda Ibicaba, do senador Vergueiro, ocupando a região. Para Antonio Reinaldo Meneghin, porém, a origem era ainda mais antiga. Ele recordava que seu avô contava sobre a passagem de bandeirantes, que montaram uma fábrica de cordas no local onde hoje fica a Avenida Wilson Diório. “Havia até uma roda d’água para enrolar os fios”, dizia sorrindo, em 2008, quando contou suas memórias. A fábrica de cerveja e os comércios do passado Pouca gente sabe, mas em 1890 Cordeirópolis teve uma fábrica de cerveja. Localizada na rua Carlos Gomes, funcionava até a esquina da Toledo Barros. Já em 1940, surgia a primeira cooperativa de consumo, que depois daria origem ao Supermercado Guardia, oferecendo produtos mais acessíveis aos moradores. Os fogos que iluminavam o céu Em 1918, nada menos que quatro fábricas de fogos de artifício funcionavam na cidade. A produção animava festas religiosas e populares até o início dos anos 40, quando começaram a encerrar atividades. Uma delas ficava onde hoje está a Escola Jamil Abrahão Saad, outra na rua José Moreira e mais duas nas ruas Guilherme Krauter e Ramenzoni. Seda e tecelagens: a força feminina no trabalho Nos anos 20 e 30, a criação do bicho-da-seda transformou a paisagem da cidade. Grandes plantações de amoreiras alimentavam os casulos, e barracões se espalhavam pela atual Avenida Presidente Vargas. A mão de obra era, em grande parte, feminina: as jovens cuidavam das folhas, que precisavam estar verdes e secas para alimentar os bichinhos. Da sericicultura nasceu a primeira fábrica de tecelagem em 1938, a Fios de Seda Ltda. Nos anos seguintes, surgiram outras: Torção Cordeiro, Sedatex e Torção Sanches, de Teleforo Sanches. Durante a Segunda Guerra, a produção de fios de seda era vital para fabricar paraquedas, o que trouxe auge econômico para a cidade. “Essa indústria trouxe muito emprego para as mulheres. Eram mais de 250 trabalhando em três turnos”, recordava dona Nice Meneghin em 2008. Cerâmicas e óleos de laranja O setor cerâmico também marcou época. A primeira fábrica de telhas surgiu em 1935, fundada por Manoel Beraldo, pai de Luiz Beraldo (prefeito nos anos 60). Depois vieram a Cerâmica Carmelo Fior e a Cerâmica Floresta, no bairro de Cascalho. Outro ramo em alta foi o de óleo de laranja, que chegou a ter três fábricas em funcionamento na década de 40. Humberto Levy, Jamil Abrahão Saad e outros empresários transformaram a fruta em riqueza industrial, movimentando a economia local. Papel, refrescos e novas frentes Na década de 40, Cordeirópolis também ganhou a Fábrica de Papelão Gabriel Saad. Depois, nos anos 50, a Papirus e, mais tarde, a Indústrias de Papel R. Ramenzoni consolidaram o setor, mesmo após incêndios e crises. Entre 1952 e 1962, a cidade também teve uma indústria de refrescos, de Miguel Rodrigues de Oliveira, que produzia groselha e eram engarrafados em pequenas “caçulinhas”. A bebida chegava a Goiás e ao recém-criado Distrito Federal. Patrimônio e construção civil A Construtora Caci, de 1947, ergueu muitas casas que ainda permanecem de pé, testemunhas de um tempo de expansão urbana. Já o Casarão Fratini, construído no século XIX, quase se perdeu em ruínas, mas foi restaurado pelo empresário Victor Levy. Hoje, abriga reuniões e ainda guarda o charme da arquitetura antiga. O fio que liga passado e presente As memórias de Meneghin, Nice e Teleforo não são apenas lembranças pessoais. Elas foram testemunhos de como Cordeirópolis se reinventou ao longo do século XX: das cordas aos fogos, da seda ao papel, das cerâmicas aos refrescos. São histórias que mostram uma cidade que cresceu com criatividade, trabalho e coragem. Histórias que não podem ser esquecidas.
Descobrimento do Brasil: por que a data mudou de 3 de maio para 22 de abril?

Você sabia que o Descobrimento do Brasil já foi comemorado em 3 de maio? Descubra como um morador de Leme (SP), José de Almeida Peixe Abade, provou que a data correta é 22 de abril de 1500. A polêmica da data do DescobrimentoMuita gente aprende na escola que o Descobrimento do Brasil aconteceu em 22 de abril de 1500, quando a frota de Pedro Álvares Cabral desembarcou na região da atual Porto Seguro (BA).O registro mais famoso desse episódio é a Carta de Pero Vaz de Caminha, documento que descreve em detalhes a nova terra avistada numa terça-feira. Conversamos com a historiadora e chefe de Núcleo de Patrimônio Histórico da cidade de Leme, Cibele Arle, ela explica que durante séculos acreditou-se que a chegada havia ocorrido em 3 de maio. O motivo? Essa era a data da Festa da Santa Cruz, e como o Brasil foi inicialmente batizado de Terra de Vera Cruz, a coincidência acabou gerando a confusão. O papel de um morador da nossa região Quem ajudou a resolver esse erro histórico foi um personagem pouco lembrado, mas essencial: José de Almeida Peixe Abade, morador de Leme (SP).• Advogado, delegado e promotor.• Jornalista e historiador apaixonado pela verdade dos fatos.• Fazendeiro e figura de grande influência social em sua região.Na década de 1940, intrigado com a polêmica, Peixe Abade mergulhou em pesquisas. Analisando documentos raros, inclusive a Carta de Caminha, ele reuniu provas de que o Brasil foi avistado em 22 de abril, e não em 3 de maio. Reconhecimento oficialEm 1949, José de Almeida Peixe Abade apresentou seu estudo à Câmara dos Deputados. Sua pesquisa foi aceita e o Brasil, enfim, passou a celebrar oficialmente o 22 de abril como o Dia do Descobrimento.Graças a ele, a memória nacional foi corrigida e, até hoje, é essa a data reconhecida nos livros, escolas e calendários. Biografia resumida de José de Almeida Peixe Abade• Nascimento: 2 de fevereiro de 1889, em Araras (SP).• Infância: Mudou-se para Leme após o falecimento do pai. Adotou o sobrenome “Abade” em homenagem ao padrasto.• Carreira: Formado em Direito, atuou como delegado, promotor e advogado.• Vida pessoal: Casou-se em 1917 com Olga Aranha e teve seis filhos.• Atuação social: Foi vice-presidente da Câmara de Leme e presidente do Esporte Clube Lemense.• Historiador: Autor de pesquisas que mudaram a forma como o Brasil entende seu descobrimento.• Falecimento: 20 de junho de 1964, em Leme, aos 65 anos. Por que lembrar dessa história? Como ressalta Cibele Arle, compreender os bastidores dessa mudança é reconhecer que até os grandes fatos da nossa história podem ter sido fruto de interpretações equivocadas. E que pessoas comuns, como um advogado e pesquisador do interior paulista podem mudar o curso da narrativa nacional. Conclusão O descobrimento do Brasil não é apenas uma data no calendário, mas um símbolo de identidade.Graças ao trabalho incansável de José de Almeida Peixe Abade, hoje sabemos que foi em 22 de abril de 1500 que Cabral e sua esquadra chegaram oficialmente ao território brasileiro. Se você gostou de conhecer essa curiosidade histórica, compartilhe este artigo, marque um amigo que também gosta de história e ajude a fortalecer o Tá no Arquivo!
Crise hídrica dos anos 60: como a lei 417 salvou Cordeirópolis

Um gertrudense daria uma verdadeira luz para Cordeirópolis nos anos 60. Luiz Beraldo, nascido em 10 de maio de 1921 em Santa Gertrudes, foi o prefeito que mudou o rumo da cidade ao enfrentar uma das maiores crises hídricas da época. No dia 16 de junho de 1965, Beraldo sancionava a Lei Municipal nº 417. Pouca gente sabe, mas aquele documento marcou a história de Cordeirópolis: foi o passo decisivo para garantir abastecimento de água tratada à população, algo que até então era um desafio diário. O plano para não deixar a cidade sem água Na gestão de Luiz Beraldo, a água virou prioridade absoluta. Três vertentes foram pensadas: Ele defendia a ideia de aproveitar a força da gravidade para facilitar o escoamento, explorando a diferença de altitude entre a represa do Cascalho e o centro da cidade. Em dias de chuva forte, Beraldo costumava observar os alagamentos na estrada do Barro Preto, onde o Ribeirão Tatu transbordava. A cada visita, reforçava em sua mente: aquele ponto tinha potencial para uma grande represa. E, anos depois, ele transformou a visão em realidade. O empréstimo que mudou a história Nos anos 60, Cordeirópolis crescia, mas o abastecimento de água não acompanhava o ritmo. A solução foi ousada: contrair um empréstimo milionário junto à Caixa Econômica do Estado de São Paulo. O valor aprovado impressionava: Cr$ 21.552.064 (vinte e um milhões, quinhentos e cinquenta e dois mil e sessenta e quatro cruzeiros), uma verdadeira fortuna para a época. O objetivo era claro: captar, distribuir e oferecer água de qualidade para a população. Em 1965, o Brasil vivia com uma inflação de cerca de 40% ao ano. Isso significava que o valor precisava ser aplicado rapidamente, antes que o dinheiro perdesse força de compra. As condições do acordo O contrato do empréstimo estabelecia: Era uma aposta arriscada, mas necessária. Cordeirópolis não poderia se desenvolver sem resolver primeiro a questão da água. Fiscalização e execução As obras seguiram os projetos técnicos do Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de Serviços e Obras Públicas do Estado de São Paulo, que fiscalizava desde a abertura das valas até a conservação das estruturas. Beraldo ou “Luizito”, como era chamado carinhosamente pelos moradores, governou Cordeirópolis de 1965 a 1969. A represa do Barro Preto e o sonho de uma ilha O desejo de represar o Ribeirão Tatu ganhou forma na Represa do Barro Preto. Anos mais tarde, um projeto de lei de autoria da ex-vereadora Mariana Fleury Tamiazo (PL nº 50/2021) oficializou o nome da represa como “Luiz Beraldo”, homenagem a quem idealizou a obra. Quando construiu a represa, Beraldo acompanhou de perto as máquinas trabalhando: caminhões, moto-niveladoras, pás-carregadeiras. A poeira levantada anunciava o progresso. Em seus planos, ele chegou a sonhar com uma ilha artificial no centro da represa, equipada com lazer, pedalinhos e restaurante. Hoje, tomada pela vegetação, essa ilha é um vestígio desse sonho. A represa foi inaugurada em 1968 junto com quem seria o seu sucessor, Teleforo Sanches. E a inauguração ficou marcada não por egos políticos, mas por união: os dois celebraram juntos com a população. Luizito mergulhou na água represada ao lado de autoridades e convidados. Uma área de aproximadamente 7 alqueires que nascia para abastecer a cidade e principalmente atender às indústrias, que pressionavam por soluções diante da escassez hídrica. Um divisor de águas A aprovação da Lei nº 417 foi o que permitiu a modernização do sistema hídrico de Cordeirópolis. A cidade não apenas garantiu qualidade de vida à população, mas também se preparou para crescer com segurança. Foi, de fato, um divisor de águas no sentido literal e no histórico. Mensagem “Entre sonhos e concreto, a represa nasceu — e com ela a certeza de que a água sempre guiou o destino de Cordeirópolis.” E aqui entra você! O Tá no Arquivo resgatou esse documento histórico, mas ainda restam perguntas sem resposta: Se você tem fotos, lembranças ou relatos, compartilhe conosco. Sua memória pode completar esse capítulo essencial da história de Cordeirópolis.
O caminho das sesmarias: as terras que moldaram Iracemápolis

Este é mais um episódio inspirado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” do professor José Zanardo (2008). Aqui no Tá no Arquivo, seguimos dando nova forma aos fatos, trazendo uma leitura viva e emocionante sobre as origens da aconchegante cidade de Iracemápolis. Para quem quer acompanhar os episódios dos artigos, pode ler: Onde tudo começou: quando Iracemápolis era só água, mata e esperança. Terras de riqueza e promessa Quando falamos de Iracemápolis, precisamos lembrar que, muito antes de ser vila ou cidade, ela nasceu dentro de um território gigantesco chamado Sesmaria do Morro Azul. Esse pedaço de chão não era qualquer terra: era uma das mais férteis, produtivas e cobiçadas da região. A Sesmaria, ainda no século XIX, abrangia o que viria a ser três grandes fazendas: Morro Azul, Paraguaçu e Paramirim. Eram áreas de solo vermelho, perfeitas para o cultivo da cana-de-açúcar e para a instalação dos engenhos que adoçavam o Brasil. A divisão das terras Com a morte do Brigadeiro Jordão, herdeiro e proprietário da imensa Morro Azul, as terras foram repartidas. Assim, surgiram outras propriedades, como a Ibicaba e o Quilombo. Cada divisão carregava não só a terra, mas também a responsabilidade de sustentar famílias inteiras e dar vida a comunidades que começavam a nascer. De acordo com o professor Zanardo, a Ibicaba, sob a condução do Senador Vergueiro, se tornou pioneira: foi lá que imigrantes começaram a trabalhar em regime de parceria, substituindo o trabalho escravo por um sistema que mudaria para sempre a economia regional. A produtividade agrícola Essas terras eram celeiros de fartura. No recenseamento de 1822, já havia registro de 231 unidades habitacionais, centenas de engenhos e uma população que somava quase 1.500 pessoas, entre livres e escravizados. A cana-de-açúcar era a rainha da lavoura, seguida pelo milho e pelo feijão. Desses campos saíam toneladas de açúcar em três tipos: Tudo era transportado em lombo de burros até São Paulo, e de lá seguia para o Porto de Santos. Uma viagem que podia durar até 6 dias. O legado das sesmarias As sesmarias não foram apenas lotes de terra. Elas foram o berço de Iracemápolis. Dali nasceram os povoados, os primeiros comércios, as festas populares e até a mistura cultural que hoje define a identidade dos iracemapolenses. Cada fazenda deixou sua marca, seja na economia, na religião, nos sobrenomes ou na própria geografia da cidade. Quando olhamos para trás, é impossível não reconhecer: foi no Morro Azul e nas sesmarias vizinhas que tudo começou a ganhar forma. Convite a você leitor Essa história não é apenas sobre terras antigas, mas sobre raízes que ainda vivem em todo o povo. Você sabia que sua família pode ter vindo dessas fazendas? Reconhece algum sobrenome ligado ao Morro Azul ou à Ibicaba? Comente, compartilhe e ajude a manter viva a memória de quem construiu a cidade. Projeto Tá no Arquivo – resgatando as histórias que o tempo não pode apagar. Se você leu até aqui, não deixe de ler: Onde tudo começou: quando Iracemápolis era só água, mata e esperança.
Primeira Festa de Santo Antônio de Cordeirópolis após emancipação com luz elétrica na praça

Era setembro de 1949. Cordeirópolis ainda sentia o frescor da emancipação conquistada no fim do ano anterior, em dezembro de 1948. A cidade começava a escrever sua história como município independente, e nada poderia simbolizar melhor essa nova fase do que uma festa popular — a primeira Festa de Santo Antônio realizada após a emancipação. De acordo com registros do livro “Santo Antônio de Cordeirópolis“, de Mário Zocchio Pasotto (in memoriam), as celebrações aconteceram entre os dias 10 e 28 de setembro de 1949, e não em junho, como conhecemos hoje. Só em 1954 a data de junho seria consolidada oficialmente para as festas do padroeiro. A festa da luz Essa edição entrou para a memória como a primeira festa iluminada pela eletricidade na praça central. As ruas em frente à matriz ganharam intensidade e brilho sob a nova iluminação, que encantava moradores e visitantes. Era um marco: a fé se encontrava com a modernidade, e a praça transformava-se em palco de devoção e novidade tecnológica. O vigário da época organizou os festejos com zelo, dividindo a paróquia em zonas, cada uma com seus festeiros. A corporação musical “Primeiro de Janeiro” animava todas as noites, desfilando pelas ruas até a igreja, onde era recebida com salvas de 10 tiros, um espetáculo de som e emoção. As barracas, comandadas por professores, senhoras da sociedade e voluntários, davam sabor e cor ao evento: A tômbola, ponto alto da diversão, tinha à frente Dona Ondina Mosca, lembrada como uma das grandes colaboradoras da festa. A comissão organizadora À frente dos festejos estava uma comissão que reunia nomes de peso para o recém-criado município: Mais do que religiosos, aqueles festejos eram um marco de identidade e união de uma comunidade que começava a construir sua própria história. O mesmo mês, outro marco: Cascalho se une a Cordeirópolis Setembro de 1949 foi mesmo um mês histórico. No dia 10 de setembro, o bispo diocesano de Campinas, Dom Paulo, anexava oficialmente a paróquia de Cascalho à de Cordeirópolis, fortalecendo os laços espirituais e administrativos da cidade. “Fazemos saber que estando legitimamente impedido (i.é ausente) do território de sua paróquia de Cascalho o Revmo. Pe Luiz Stefanello, e desejando nós prover às necessidades espirituais temporais dos fiéis da referida freguesia, havemos por bem anexa-la à freguesia de Cordeirópolis e em virtude disso encomendamos ap Revmo. Pároco que procure do melhor modo possível atender às necessidades espirituais da dita freguesia, como esperamos do seu zelo e solicitude”. Um legado de fé e progresso Assim, a festa de 1949 não foi apenas uma celebração religiosa. Foi um marco cultural e histórico: a primeira festa de Santo Antônio de Cordeirópolis após a emancipação, a primeira iluminada pela energia elétrica, e um símbolo da força de uma cidade que nascia. Mensagem E assim brilhou a primeira festa iluminada de Cordeirópolis, um clarão de fé que ainda aquece nossas memórias. Se você gostou dessa memória, curta nossa página e ajude a manter viva a história de Cordeirópolis e região.Compartilhe com seus amigos e parentes que também valorizam nossas raízes.Juntos, espalhamos o passado para que nunca seja esquecido!
Onde tudo começou: quando Iracemápolis era só água, mata e esperança

Você já parou pra pensar no que existia aqui… antes das ruas, dos carros e das casas? Respira fundo. Fecha os olhos por um instante. Tenta imaginar: nenhuma avenida, nenhum poste, nenhuma igreja. Só mata fechada, rios de água cristalina e um silêncio cortado apenas pelos passos de quem desbravava a terra com o machado numa mão e o sonho na outra… Se você mora aqui, essa história é sua. Se você ama essa cidade, precisa conhecer o que a moldou. Compartilhe esse texto com alguém da família. Pergunte aos mais velhos: Você lembra disso? A gente te convida a viajar por um tempo esquecido mas que construiu tudo o que vemos hoje. Vamos juntos? O tempo em que tudo era água, barro e suor Antes de existir qualquer cidade, Iracemápolis era apenas parte de uma imensidão de terras férteis pertencentes à grande Limeira. Era o século XIX, e nossa região que hoje pulsa com escolas, comércios e avenidas — ainda era um misto de matas fechadas, animais selvagens e rios caudalosos. O chão era de barro vermelho. Os primeiros caminhos eram trilhas abertas a facão. As casas? Algumas feitas de barro e sapé. Era o começo de tudo e ninguém sabia que aquele pedaço de terra carregava uma promessa: a de se tornar um lar. Os rios Piracicaba, Corumbataí, Atibaia, Jaguari e Pirapitingüi corriam livres, alimentando as matas e garantindo a vida. Pequenos ribeirões como o Cachoeirinha, que até hoje existe — eram fontes de água, sustento e sobrevivência. Quem chegou primeiro? Os negros libertos por volta de 1840, que se fixaram nas encostas do Morro Azul. Ali nasceram os primeiros núcleos humanos. Depois, vieram os imigrantes europeus, portugueses, suíços, alemães e italianos em busca de algo simples: uma nova chance. A estrada da esperança Imagine o sacrifício: cada viagem até São Paulo levava até 6 dias. O transporte era feito no lombo de burros, cada um carregando 10 arrobas de açúcar. Não havia asfalto, nem sinal de telefone. Era barro, tropeços e coragem. Foi o Senador Vergueiro quem mudou esse cenário. Em 1823, ele conseguiu abrir uma estrada ligando o Morro Azul a Piracicaba. Isso encurtou caminhos, facilitou o escoamento da produção e atraiu mais gente para a região. A cana-de-açúcar era o ouro da época. Os engenhos do Morro Azul, da Ibicaba, da Geada e do Cascalho produziam açúcar em três tipos: branco, redondo e mascavo. E tudo era levado até Santos de onde o Brasil se conectava ao mundo. Gente que construiu com as próprias mãos Ninguém chegou aqui com tudo pronto. Cada metro quadrado foi conquistado com luta. Os portugueses vieram nas décadas de 1840. Trouxeram seus sobrenomes, tradições e a força dos braços. Depois vieram os alemães e suíços, entre 1852 e 1872. E por fim os italianos, aos milhares, entre 1887 e 1897. Você já ouviu algum desses nomes por aqui?Batiston, Buzolin, Bertanha, Batistela, Chinellato, Ometto, Furlan, Prada, Lucato, Giusti, Gazetta…Essas famílias fazem parte da nossa história. Da minha. Da sua. Eles trabalharam nas fazendas, cuidaram das lavouras, lavaram roupas no Ribeirão Cachoeirinha, criaram filhos, montaram igrejas e padarias, ensinaram a bocha, e deixaram marcas que ainda estão em cada esquina. E se a cidade esquecesse de onde veio? Talvez você esteja lendo isso agora sentado num banco da praça, no sofá de casa ou até numa padaria com nome italiano. Mas tudo o que está ao seu redor nasceu de um tempo em que não havia quase nada apenas a vontade de construir. Se a gente esquece de onde veio, a gente também perde o rumo pra onde vai. Por isso, o projeto Tá no Arquivo existe: pra resgatar a memória da nossa terra, provocar lembranças e valorizar a luta de quem veio antes. Você sabia? Convite especial Tem alguém na sua família que viveu essa época ou lembra de histórias parecidas?Marque essa pessoa. Compartilhe este artigo. E se você tiver fotos ou memórias desse tempo, envie para o nosso projeto no Tá no Arquivo. Vamos construir juntos o maior acervo de histórias de Iracemápolis.Porque o que nos une não são apenas ruas, mas raízes profunda. Continue seguindo a página para conhecer mais histórias de Iracemápolis e região. Este artigo é inspirado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” do professor José Zanardo, publicado em 2008 com apoio da Prefeitura Municipal. Aqui no Tá no Arquivo, estamos dando uma nova forma a essa história, traduzindo os fatos do livro para uma leitura mais viva, emocional e acessível. O conteúdo é o mesmo. Mas o jeito de contar… ah, esse é pra te fazer sentir, lembrar e se orgulhar de onde veio. Curta e compartilha.
Café, trilhos e progresso: o nascimento da Estação Cordeiro

O fim do século XIX marcou uma virada decisiva para a região que mais tarde se tornaria Cordeirópolis. Até então, o território era composto por grandes fazendas, onde o café já havia se transformado no motor da economia. Mas havia um desafio: o escoamento da produção até o porto, feito em tropas de burros, era caro, lento e arriscado. Foi nesse cenário que surgiu a ideia que mudaria a história local: a construção da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Em 1876, o trecho Campinas–Rio Claro foi inaugurado, trazendo consigo uma parada estratégica: a Estação Cordeiro, assim chamada por causa da antiga Sesmaria do Cordeiro, citada em registros anteriores. Essa estação não foi apenas um ponto de embarque e desembarque. Ela representou o início da integração da região ao progresso, encurtando distâncias, barateando custos e impulsionando a circulação de mercadorias e pessoas. Do café às oportunidades A ferrovia não apenas facilitou o transporte do café, mas também abriu caminho para novos ciclos de desenvolvimento. Ao redor da estação, começaram a surgir pequenos comércios, armazéns e moradias, formando o embrião do futuro centro urbano. Um ponto de encontro de culturas A proximidade com o Núcleo Colonial de Cascalho, reforçou ainda mais o movimento. Imigrantes chegavam, comerciantes se instalavam e trabalhadores avulsos encontravam oportunidade. A Estação Cordeiro virou o elo entre o campo e a cidade, entre o passado rural e o futuro urbano. O Núcleo Colonial “Cascalho” foi criado em 1884 pela Província de São Paulo no município de Rio Claro, cujo objetivo era assentar imigrantes europeus para abastecer as fazendas cafeeiras da região, além da mão de obra para a colheita do café. Os primeiros imigrantes a chegarem no Núcleo foram os alemães, suecos e austríacos, no entanto, o clima não foi favorável e poucos permaneceram e a ´partir de 1893, chegaram os imigrantes italianos e portugueses. A estação como marco histórico Mais que um edifício de tijolos e trilhos, a Estação Cordeiro foi símbolo de modernidade. Ela não apenas transportava produtos, mas também ideias, pessoas e sonhos. A partir dali, o nome Cordeiro passaria a ecoar como referência, plantando as sementes da futura emancipação do município.