História do Cinema em Cordeirópolis: o inesquecível Cine Paulista e a magia das telas nos anos 40

O encanto da tela grande Na década de 40, quando filmes mudos de Charles Chaplin, comédias, bang-bangs e seriados movimentavam multidões, o cinema se tornou um dos grandes encontros sociais da pequena Cordeirópolis. Enquanto o Brasil celebrava a era da “chanchada” com astros como Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade e Dercy Gonçalves, a cidade vibrava com o seu próprio templo de exibição: o Cine Paulista, inaugurado em 29 de março de 1946. Foi ali que muitos moradores viveram noites inesquecíveis, embalados pela chegada das produções vindas de trem, através das linhas férreas da Cia. Paulista, trazidas pela empresa Esteves Jr., responsável também pelos cinemas de Limeira e Araras. Cine Paulista: da glória ao adeus O Cine Paulista marcou época. Teve sua reinauguração em 1952 com o filme “Laura”, mas o brilho foi se apagando com a chegada da televisão. Em julho de 1965, o cinema fechou suas portas. Ainda assim, resistiu por alguns anos: o prédio foi usado para apresentações do teatro de Manoel Loureiro até ser demolido em 1981. Uma despedida que deixou em muitos corações o gosto de saudade, como recordava Humberto Luiz de Araújo em sua entrevista ao Expresso no ano de 2008: “Foram anos em que o cinema movimentava a cidade. O Cine Paulista era mais do que diversão, era um ponto de encontro, um elo entre as pessoas.” A magia da projeção Entre 1952 e 1959, o jovem da época, Carlito Gardezani foi responsável, junto com o amigo Bernardino, por projetar os filmes que chegavam em latas redondas com cinco ou seis rolos. Ele descreveu com emoção a responsabilidade de não deixar que os filmes se emaranhassem e revelou o segredo da transição invisível entre os projetores “Simplex” e “Triunfo”: “Quando faltavam uns 50 metros para terminar uma parte, aparecia um sinal no canto da tela. Era o momento de ligar a outra máquina. Fechava um projetor, abria o outro, e o público nem percebia. Era pura magia.” Quem fez a história do cinema em Cordeirópolis O cinema não existiria sem aqueles que o mantinham vivo. Eis alguns nomes que fizeram parte dessa história: Gerência – Moacyr Dias, João “Carniceiro” e Orlando de Lucca (in memoriam).Bilheteria – Idalina Martins (in memoriam) e Helena de Lucca Girardi.Portaria – Antonio Danezin, Antonio Tamiazo, Claudemir Calderaro, Vergílio Danezin e Adelino Gardezani. Propaganda – Antonio Luiz de Araújo, Lúcio Gabriel e Humberto Luiz de Araújo. Operadores de projeção – Oneri Teodoro de Lima, Armando Pink Jr, José Lacerda, Agnaldo Dias, José de Lucca, Milton Gonçalves, Manoel de Souza Loureiro, Orlando de Lucca, Antonio Fabris, Odécio Luiz de Araújo, Cezar Fabris, Bernardino Botechia, Carlito Gardezani e João Fabris. Esses nomes carregaram consigo o legado de uma época em que o cinema era a janela para o mundo da comunidade local. Um patrimônio da memória Hoje, muitas dessas pessoas já não estão entre nós. Mas suas histórias permanecem vivas sempre que relembramos o Cine Paulista. O prédio não existe mais, mas a emoção das noites de cinema, das filas na bilheteria, dos encontros entre amigos e famílias continua ecoando. Ajude a completar essa história Esta matéria é um resgate publicado originalmente em 2008 pelo Jornal Expresso. Algumas informações podem estar incompletas e muitos detalhes podem ter se perdido com o tempo. Se você tem fotos, lembranças ou relatos sobre o Cine Paulista ou sobre o cinema em Cordeirópolis, entre em contato com o Tá no Arquivo. Sua memória pode iluminar ainda mais essa história que marcou gerações Esta reportagem foi originalmente publicada no Jornal Expresso em fevereiro de 2008. No Tá no Arquivo, ela retorna em uma nova narrativa, resgatando memórias de quando Cordeirópolis ainda chamada “Cordeiro” e viveu intensamente a magia do cinema. Mensagem Luzes, câmera e saudade: o Cine Paulista pode ter sido demolido, mas continua vivo no filme da memória.
Cordeirópolis nos anos 40: o teatro, o cinema e a música já encantavam a cidade

O cenário da cidade nos anos 30 e 40 Cordeirópolis, ainda chamada de “Cordeiro”, era um município pequeno, com apenas três ruas principais e pavimentação em paralelepípedo. O giro financeiro vinha basicamente do comércio, já que o restante da população vivia em colônias espalhadas pelas grandes fazendas. Segundo relatos de moradores da época, havia mais gente morando nas colônias do que no centro. E no coração da cidade, em cada esquina, um comércio mantinha a vida econômica ativa. Mas o que realmente fez a cidade se destacar foi a presença da Cia. Paulista de Estrada de Ferro. Suas imponentes locomotivas a vapor reuniam mais de 400 funcionários, transformando a pequena Cordeirópolis em um polo de movimento e progresso. Essa lembrança foi registrada em entrevista ao Jornal Expresso pelo ex-prefeito Teleforo Sanches (já falecido), que, aos 85 anos, contou que chegou a Cordeirópolis em 1927, quando seu pai abriu uma padaria na esquina das ruas Visconde do Rio Branco e José Bonifácio. A força da cultura em uma cidade pequena Apesar do tamanho modesto, Cordeirópolis respirava cultura, arte e lazer. O cinema, a música e principalmente o teatro movimentavam a vida social da cidade. As apresentações eram feitas por amor, dedicação e entusiasmo — tudo improvisado e artesanal. Os cenários, muitas vezes montados com papelões e panos pintados à mão, levavam horas, até dias, para ficarem prontos. Os atores, amadores, eram também cenógrafos, iluminadores e até marceneiros de palco. O saudoso José Valdir Vidoretto, o “Miúdo”, lembrou em entrevista ao Expresso de um dos grandes momentos da época: “Me recordo da encenação da Paixão de Cristo por volta de 1978. Foram sete dias inteiros preparando o cenário da crucificação, mas a cena durou apenas seis minutos.” As primeiras grandes peças teatrais Segundo depoimentos de antigos moradores, o auge do teatro local começou na década de 1940. O pioneirismo marcou a memória de muitos. O também saudoso Moacir Hespanhol, aos 83 anos, ( já falecido) contou sobre uma das primeiras montagens: “Branca de Neve e os Sete Anões”. “Nunca me esqueço… fomos apresentar em Leme e percebemos que tínhamos esquecido a espingarda do caçador. Eu era o caçador! Tive que improvisar e disse que mataria a Branca de Neve enforcada”, relembrou entre risos. O elenco que entrou para a história Na foto histórica de 22 de agosto de 1940, registrada em arquivo de Osvaldo Hubner, estão os atores que deram vida ao conto de fadas: Um legado que ecoa até hoje Essas histórias mostram que Cordeirópolis, mesmo pequena, sempre teve uma veia cultural forte. O improviso, o talento e a paixão pelo espetáculo construíram memórias que atravessaram gerações — e que agora estão guardadas no Tá no Arquivo. E você, já conhecia essa parte tão viva da história cultural de nossa cidade? *Esta reportagem foi originalmente publicada no Jornal Expresso em 2008 e chega agora ao Tá no Arquivo com uma nova leitura, mais fiel às memórias de quem viveu a época.