Em 30 de julho de 1988, O Correio de Cordeirópolis chegava às ruas com um claro recado: quem comandava o jornal era a política. E isso fica evidente logo na capa da edição.
Várias matérias e entre elas giravam em torno de quem tinha maior destaque na cidade:
a Segurança Pública e o legado dos família Levy.
Multas, caos no trânsito e o início da era da punição
“Multas altas podem reduzir infrações, prevê delegado.”
Foi assim a manchete que o delegado José Antônio Barbosa se posicionava: para acabar com desrespeito e acidentes, teria que doer no bolso.
Ele dizia que o aumento das autuações fazia parte de um novo plano nacional e que, em Cordeirópolis, o trânsito já dava sinais de preocupação:
- Falta de sinalização
- Acidentes constantes
- Crescimento da frota
- Imprudência generalizada
A cidade ganhava mais carros do que estrutura e o jornal tratava o tema como alerta, mas também como apoio às medidas do governo federal.
Aqui, o jornal assumia seu tradicional papel da época: ser a voz das autoridades.
Cássio de Freitas Levy: de político a “patrimônio”
A reportagem interna afirmava sem hesitar:
“Cássio de Freitas Levy: um patrimônio da cidade”
Não era apenas uma matéria. Era uma homenagem completa ao ex-prefeito que governou duas vezes e tinha forte ligação com o desenvolvimento econômico da cidade.
Sua história foi contada como a de um herói local:
- Família tradicional e influente
- Desenvolvimento urbano nos mandatos
- Aliança política forte
- Liderança reconhecida mesmo fora do cargo
O texto não escondia seu lado: era elogio atrás de elogio. É a prova viva de como o jornal local dos anos 80 funcionava junto a quem estava no destaque da cidade.
Uma cidade em crescimento e disputa
O restante da edição mostra outros cenários de uma Cordeirópolis que se transformava:
- Assistência Social: distribuição gratuita de pão e leite para famílias carentes
- Comércio aquecido: preços de roupas em alta por causa do frio
- Cultura e lazer: coluna de arte, horóscopo e torta de caramelo
- Esporte vibrando: Varzeano em destaque e Senna vencendo a Alemanha
- Polícia ativa: prisões, acidentes e crimes cotidianos
Era a cidade vivendo sua rotina, enquanto o jornal registrava aquilo que queria que ficasse para a história.
Crítica histórica: o jornal como ferramenta de influência
Ao analisar a edição hoje, o que mais chama atenção é a proximidade do jornal com os poderosos.
A linguagem é respeitosa, institucional, cheia de adjetivos e sem questionamentos.
No papel, o povo aparecia mais nas propagandas do que nos textos.
O jornal narrava o que a cidade via, mas a visão de quem mandava.
Memória viva de um tempo político
Rever essas páginas é entender:
| Naquele momento… | |
| A comunicação não era só notícia. Era poder. Era imagem. Era influência. | |
Agora, décadas depois, esse jornal vira documento histórico.
Ele revela como Cordeirópolis negociava suas prioridades e sua identidade.
E revela, também, o quanto a imprensa mudou.
📍 Fonte: O Correio de Cordeirópolis – Edição de 30 de julho de 1988
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