O início de tudo: quando a cidade era apenas uma vila
No final do século XIX e início do XX, Santa Cruz da Boa Vista, futuro nome de Iracemápolis, era um pequeno núcleo cercado por fazendas, barro vermelho e muita vontade de crescer.
As primeiras casas se formavam em torno da Praça João Pessoa, e ali também nasceram os primeiros comércios, locais de encontro e de sobrevivência.
A economia ainda era modesta, mas a fé e o trabalho faziam o progresso andar a passos firmes.
Família Simões: a farmácia e o coração da vila
Por volta de 1915, chegava a família Simões, vinda de Limeira. O patriarca, Capitão Paulo Simões, fundou a Farmácia Veado, uma das primeiras da cidade nome curioso, mas muito respeitado.
Era ele quem manipulava remédios, preparava fórmulas e também animava a vida social, organizando bailes e cordões carnavalescos na praça.

Sua esposa, Dona Auta de Oliveira Simões, conhecida como “Alma Boa de Iracemápolis”, era a anfitriã de professores, viajantes e políticos que vinham de fora.
Na casa da família, o café era passado na hora, e o acolhimento era lei.

Família Ometto: da energia à usina
Em 1918, chegou a família Ometto, um nome que se tornaria sinônimo de desenvolvimento.
Foram eles que trouxeram a energia elétrica para o distrito, substituindo os antigos lampiões acesos toda noite por João de Camargo Prado, o “acendedor oficial”.
Com a fundação da Usina Boa Vista e depois da Usina Iracema, os Ometto transformaram o cenário econômico da região.
A cana-de-açúcar voltou a dominar o horizonte e a geração de empregos se multiplicou, um divisor de águas na história local.

Família Santos: a padaria e o primeiro cinema
Em 1931, chegou José dos Santos, português, com sua esposa Tereza, italiana, e dez filhos.
Compraram uma casa na praça e abriram a Padaria São José, onde o filho Gumercindo era padeiro e animador das manhãs com o cheiro de pão fresco.
Mais tarde, abriram o Cinema São José, o primeiro da cidade, projetando filmes para um público que via o cinema como mágica.
Os Santos também estiveram por trás de outros negócios, como lojas de roupas, caminhões de transporte e pequenas chácaras, uma nova história de trabalho.

Outros pioneiros do comércio local
Ao lado dessas famílias, vieram nomes como João Piccoli, dono da Farmácia Iracema; Antônio Guarino, fundador da loja A Porta Larga; e Vicente Magaldi, que administrou a famosa Cooperativa Popular de Consumo, o maior armazém da cidade por mais de 30 anos.
A cada década, um novo comércio nascia. Uns desapareceram, outros deixaram herdeiros, mas todos ajudaram a moldar o perfil trabalhador e acolhedor do povo iracemapolense.
Linha do tempo dos empreendimentos pioneiros
| Ano | Evento marcante | Família / Fundador |
| 1911 | Primeiro telefone da vila instalado | João de Souza Barreto (Seu Barretinho) |
| 1915 | Fundação da Farmácia Veado | Capitão Paulo Simões |
| 1918 | Chegada da energia elétrica | Família Ometto |
| 1931 | Fundação da Padaria São José | Família Santos |
| 1932 | Produção do primeiro açúcar na Usina Boa Vista | Irmãos Ometto |
| 1936 | Criação da Cooperativa Popular de Consumo | Vicente Magaldi |
| 1944 | Inauguração do Grupo Escolar de Vila Iracemápolis | Professores locais |
| 1950 | Primeiros estabelecimentos comerciais se consolidam na Praça João Pessoa | Diversas famílias pioneiras |
Legado que atravessou gerações
Essas famílias construíram mais que negócios, construíram uma cidade.
Foram pioneiros que acreditaram no futuro quando quase nada existia.
O café coado, o pão quente, a luz elétrica e o som do projetor do cinema marcaram o nascimento de uma comunidade que cresceu unida pelo trabalho e pela fé.
Hoje, cada rua, cada prédio antigo e cada sobrenome repetido nas gerações seguintes é um lembrete de que o progresso nasceu dentro de casa nas mãos desses pioneiros.
Convite a você leitor
Você tem fotos antigas desses comércios ou histórias das famílias Simões, Ometto ou Santos?
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Fonte histórica
Este artigo foi baseado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” (2008), do professor José Zanardo, uma obra resultado de três anos de pesquisas dedicadas ao resgate da memória histórica da cidade. O texto aqui apresentado é uma adaptação narrativa do site Tá No Arquivo, mantendo os fatos históricos documentados.
Tá No Arquivo – Desenterrando histórias que merecem ser contadas.
Inspirado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” de José Zanardo recontado no projeto Tá no Arquivo em uma linguagem viva, afetiva e curiosa, que conecta o passado às raízes do presente.