Efeitos especiais eram improvisados durante as peças teatrais em 1948

Relembre a história do teatro cordeiropolense e a dedicação de artistas que transformaram limitações em criatividade

Na década de 1940, o teatro em Cordeirópolis começou a ganhar forma, como já relatamos anteriormente aqui no Portal Martello News. Agora, vamos mergulhar mais profundamente na história teatral da cidade, especialmente no ano de 1948, quando a paixão pela arte superava todas as dificuldades materiais.

Naquela época, grupos teatrais locais não contavam com recursos tecnológicos ou financeiros, mas possuíam algo muito mais valioso: amor pela arte e criatividade sem limites. Sons de coruja, raios, chuva e outros efeitos especiais eram todos criados de forma artesanal, numa demonstração de engenhosidade que marcou gerações.

Esta reportagem, originalmente publicada em fevereiro de 2008 em nossa versão impressa, revisita esses momentos únicos da história cultural de Cordeirópolis.

As primeiras peças adultas (1948-1949)

Na época em que o Cordeiro Clube funcionava onde hoje está localizado o Banco Bradesco, a cidade vivia um momento especial de efervescência cultural. A senhora Josefina Boldrini Beraldo (in memoriam) relembrou, em entrevista de 2008, sua participação na peça “Chuvas de Verão”, encenada entre 1948 e 1949.

“Eu participei do grupo teatral Laurentino Fonseca e acredito que foi uma das primeiras peças adultas. Essa época dá muita saudade, a turma era muito animada para fazer teatro, mesmo não tendo muita estrutura. Fazíamos porque gostávamos”, emocionou-se ao recordar aquele período.

Década de 1950: O grupo dramático São Luiz Gonzaga

Os anos 1950 foram marcados pela atuação da Congregação Mariana, que criou o Grupo Dramático São Luiz Gonzaga. Iniciando suas atividades em 1956 na Sede Social Católica, o grupo manteve-se ativo até 1961, quando apresentou sua última peça em 18 de novembro, na sede do Cordeiro Clube.

“Esta última peça teatral tinha somente homens no elenco”, contou na época, Moacir Ribeiro (in memoriam) , ex-integrante do grupo.

As apresentações aconteciam aos domingos, logo após as missas das 19 horas, e tinham duração entre uma hora e meia a duas horas. As músicas eram executadas em “sonatas” e, durante os intervalos, havia atrações para entreter o público enquanto o elenco trocava cenários e figurinos.

“Tinham conjuntos tocando na hora de cada ato e até humoristas que chamávamos de cômicos, animando o público para fazermos a troca do cenário”, recordou Ribeiro.

Jesus Rei dos Reis – 19/03/1961 – Arquivo: Moacir Ribeiro

A arte da improvisação: efeitos sonoros artesanais

A genialidade dos grupos teatrais de Cordeirópolis se revelava especialmente na criação dos efeitos especiais. Segundo Moacir Ribeiro, cada efeito era cuidadosamente improvisado com os recursos disponíveis.

Para simular raios, o eletricista Antonio Panaggio (in memoriam) utilizava dois fios desencapados para criar flashes de luz. O som da chuva era produzido por chapas grandes de zinco, balançadas por duas pessoas, uma de cada lado. Já o trovão era criado por Irineu Loureiro e Benedito Duarte, que jogavam bolas de bocha um para o outro, gerando o efeito sonoro desejado.

Banner Promoção

“Eu lembro de uma cena da peça ‘Louco da Aldeia’ que o Irineu de Souza Loureiro, o ‘compadre Souza’ (in memoriam) subiu em cima do palco e fez o som da coruja. Foi muito legal, pois naquela época improvisávamos tudo”, relatou Ribeiro.

O Cego do Paraguai – 18/11/1961

Anos 1970: O grupo teatral Valentino Spolador

Este grupo representou um grande marco na história do teatro cordeiropolense. Durante seu auge, conquistou títulos importantes em uma competição realizada em Rio Claro, onde Silvia Beraldo Mazutti e João Ronquizelli foram premiados como melhor atriz e melhor ator, respectivamente.

Nos anos 1970, as apresentações aconteciam no Centro Comunitário. “Algumas foram no antigo Cine Paulista, onde foi o prédio da Acorac, na rua Sete de Setembro. Inclusive até ajudei”, contou Maria Costa.

O grupo sofreu mudanças após o falecimento de João Ronquizelli em 1975, mas continuou suas atividades até próximo aos anos 1980, realizando diversas apresentações no Colégio Estadual, hoje conhecido como Escola Jamil.

“Eu comecei no teatro em 1973 com a montagem ‘O Casaco Encantado’ e participei até 1979. Foram bons momentos de improviso e muita dedicação de quem atuava nos teatros”, declarou na época, Osvaldo Donizete Hubner.

Segundo José Valdir Vidoretto, a última peça que Manoel Loureiro iniciou, mas não concluiu, foi “O Calígola”, interrompida por seu falecimento em outubro de 1979.

Cômicos na hora do intervalo – Porunga e Pipoca

O renascimento do teatro local

Após a morte de Manoel Loureiro, as apresentações teatrais cessaram em Cordeirópolis. A cidade ficou 26 anos sem espetáculos até que, em 2005, nasceu o grupo Teatral Pingo D’água, marcando o renascimento da atividade teatral na cidade. O Grupo Pingo D’água também encerrou as atividades  no ano de 2015, no ano de 2016 fizeram a última apresentação em Guararema.

Esta reportagem faz parte da série “Retratos do Passado”, que resgata momentos importantes da história de Cordeirópolis.

Veja em nossa página do Instagram clicando aqui