Bate-Pau: A origem polêmica do nome de Iracemápolis

Você sabia que Iracemápolis já foi chamada de “Bate-Pau”? E não, não tem nada a ver com briga.

Por décadas, gerações de iracemapolenses cresceram ouvindo histórias sobre o apelido da cidade. “Aqui era o Bate-Pau”, diziam os mais velhos com um sorriso no rosto. “O pessoal brigava muito”, brincavam outros. Mas a verdade por trás desse nome é bem diferente  e muito mais emocionante  do que a lenda urbana sugere.

A dança que deu nome a uma cidade

Final do século XIX. Nas encostas do Morro Azul, um pequeno povoado começava a se formar. Santa Cruz da Boa Vista mal tinha duzentos habitantes, mas já carregava em seu DNA algo que a tornaria única: a memória viva da escravidão e da liberdade.

Ali, onde hoje existem ruas asfaltadas e casas de alvenaria, negros recém-libertados se reuniam para manter viva uma tradição que vinha das senzalas. Era a dança do Bate-Pau um ritual poderoso onde homens e mulheres dramatizavam, ao som de estacas de madeira se entrecruzando no ar, as cenas de sofrimento que haviam vivido.

Tac, tac, tac.

O som das madeiras ecoava pelas noites. Não era apenas uma dança. Era memória transformada em movimento. Era dor virada em arte. Era resistência.

O mal-entendido que virou história

A dança do Bate-Pau ainda existe! Ela é conhecida hoje como Maculelê, uma manifestação cultural afro-brasileira que mantém viva a memória dos ancestrais

Com o passar dos anos, novos moradores chegaram  italianos, alemães, portugueses. Muitos não conheciam a origem da dança. Viam os paus se cruzando no ar e pensavam: “Deve ser por causa das brigas”.

Nos anos 40 e 50, quando Iracemápolis lutava pela emancipação política e os ânimos esquentavam com Limeira, o apelido ganhou ainda mais força. As partidas de futebol no velho estádio (que existiu até os anos 60) eram marcadas por rivalidades acaloradas. “Lá vem o pessoal do Bate-Pau!”, provocavam os limeirenses.

Mas a verdade? Santa Cruz da Boa Vista era um lugarejo tranquilo, de poucas casas e povo pacato. O nome nunca teve relação com violência.

Você sabia?

A dança do Bate-Pau ainda existe! Ela é conhecida hoje como Maculelê  uma manifestação cultural afro-brasileira que mantém viva a memória dos ancestrais. Os movimentos e o ritmo continuam os mesmos: bastões de madeira se cruzando no ar, simulando lutas e trabalhos forçados, transformando sofrimento em beleza.

Quando Iracema virou Iracemápolis

Em 1923, o governador Washington Luís elevou o pequeno povoado à categoria de Distrito de Paz. Era hora de um nome oficial, digno.

A escolha foi uma homenagem ao Coronel José Levy, proprietário da Fazenda Iracema, em cujas terras nascera a vila. Mas havia poesia na decisão:

  • Iracema (do tupi) = “Lábios de Mel”
  • Polis (do grego) = “Cidade”

Nascia Iracemápolis, a cidade Lábios de Mel.

O detalhe que ninguém conta

Banner Promoção

Aqui vai uma curiosidade que poucos sabem: tecnicamente, quem nasce em Iracemápolis deveria ser chamado de iracemapolitano, não iracemapolense.

Por quê? Porque quando uma palavra termina em “polis” (como Florianópolis, Cosmópolis, Nápolis), o gentílico correto é “politano”: florianopolitano, cosmopolitano, napolitano.

Mas não se preocupe, o uso popular consagrou “iracemapolense”, e é assim que nos chamamos com orgulho!

Para refletir

Quantas histórias da sua cidade você acha que conhece? E quantas, como a do Bate-Pau, foram mal interpretadas ao longo do tempo?

A história de Iracemápolis nos lembra que nomes carregam memórias — e que vale a pena desenterrar essas memórias antes que se percam completamente.

Das senzalas às ruas

Hoje, quando você caminha pelas ruas de Iracemápolis, está pisando em terra sagrada. Ali, nas encostas do Morro Azul, nas margens do Ribeirão Cachoeirinha, homens e mulheres que conheceram a escravidão foram os primeiros a sonhar com liberdade.

Eles não tinham muito. Não tinham ruas asfaltadas, luz elétrica ou água encanada. Mas tinham algo poderoso: a memória de quem eram e de onde vieram. E guardavam essa memória do único jeito que sabiam: dançando, batendo madeiras no ar, contando suas histórias.

O Bate-Pau não era sobre briga. Era sobre resistência. Era sobre não esquecer.

 Fontes históricas

Este artigo foi baseado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos” (2008), do professor José Zanardo, que dedicou três anos de pesquisa para resgatar a memória da cidade. A obra é considerada o registro mais completo sobre as origens de Iracemápolis.

E você, q que sabe sobre suas raízes?

Sua família tem histórias dos tempos antigos de Iracemápolis? Alguém da sua casa conheceu os pioneiros do Bate-Pau? Ou tem memórias das rivalidades com Limeira nos campos de futebol?

Compartilhe nos comentários! A história de uma cidade é feita de histórias de pessoas  e cada relato conta.

Próximo artigo da série: “Os Imigrantes que Construíram Iracemápolis: Italianos, Alemães e Portugueses”  Descubra como famílias vindas da Europa transformaram um povoado de duzentas almas na cidade que conhecemos hoje.

Tá No Arquivo – Desenterrando histórias que merecem ser contadas.