A fé que acendeu Iracemápolis: procissões, promessas e as festas que paravam a cidade

Você lembra daquela festa antiga, daquelas noites em que a praça parecia outro mundo?
Lembra do cheiro de vela, do som do sino, da rua de terra tomada por vizinhos que nem sempre se falavam… mas ali, naquele momento, caminhavam juntos?
Pois é. Iracemápolis nasceu disso: da fé que unia, das tradições que seguravam o coração da cidade no lugar.”

A história religiosa da cidade de Iracemápolis não começa com templos grandes ou estruturas prontas. Começa pequeno. Começa simples. Começa em uma capelinha improvisada, onde a vila de Santa Cruz da Boa Vista encontrava sua força para viver e sobreviver. Era ali que se decidiam casamentos, se rezavam missas, se acolhiam viajantes e se choravam despedidas.

Festa na Praça João Pessoa em 1936. Reprodução com IA

Quando a fé era o centro da vida

Para quem vivia naquelas décadas, religião não era só fé, era rotina, era segurança, era convivência. A igreja era o ponto mais importante da vila. Era onde as pessoas se reconheciam, se ajudavam e até resolviam os conflitos do dia a dia.

E no meio disso tudo, havia as festas. E como havia festas.

A Festa de São Sebastião: o evento que fazia a cidade pulsar

Se havia um dia em que tudo mudava, era na festa de São Sebastião.
Segundo José Zanardo, esse era o grande acontecimento do ano. Vinham gente das fazendas, moradores da vila, tropeiros, crianças correndo pela praça.
As barraquinhas se montavam cedo. O cheiro de comida tomava o ar. Os leilões arrancavam risadas e promessas. As rezas ecoavam pela madrugada.
Era mais que uma festa.
Era o momento em que a cidade dizia: “Estamos vivos.”

Procissões que deixavam a vila em silêncio

Quando o sino tocava, a cidade inteira parava. As procissões eram longas, emocionantes, cheias de fé.
As velas iluminavam as ruas de terra.
As crianças vestidas de branco caminhavam devagar.
O andor balançava nas mãos dos devotos.
E cada passo deixava uma marca — não no chão, mas no coração de quem vivia ali.

Quermesses: comida, encontro e destino

As quermesses eram outro espetáculo à parte.
Tinha doce, tinha rifa, tinha frango que virava disputa.
Mas, acima de tudo, tinha encontro.
Muita gente da cidade diz até hoje:
“Meu primeiro amor começou ali… na quermesse.”

Promessas, curas e histórias que viraram memória

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Zanardo registra relatos que emocionam:
Famílias fazendo promessas de pés descalços.
Vizinhos acendendo velas por horas para pedir cura.
Gente que jurava ter vivido um milagre.

Numa cidade pequena, o milagre de um virava esperança para todos.

De ontem pra hoje: o que mudou?

Quase tudo.
As estruturas das igrejas cresceram.
As festas se modernizaram.
Os eventos ganharam palco, som, iluminação.

Mas uma coisa permanece:
O brilho no olhar de quem participa.
A emoção ao carregar um andor.
A força da fé que atravessa gerações.

O legado que a religião deixou na cidade

A religião não foi apenas uma prática espiritual.
Foi a coluna que sustentou a vida social da vila.
Foi a mão que acolheu, o ombro que amparou, o elo que uniu famílias, vizinhos, estranhos.
Quando Iracemápolis ainda engatinhava, foi a fé que segurou a cidade no colo.

 Convite ao leitor

Se você tem fotos antigas de festas, procissões ou capelinhas… se já carregou um andor ou acendeu uma vela em dia difícil…
Essa história também é sua.

Acesse o Tá no Arquivo e ajude a manter viva a memória religiosa que moldou Iracemápolis.

Baseado no livro “Iracemápolis: Fatos e Retratos”, de José Zanardo (2008)