Você conhece a história das famílias italianas que perderam filhos durante a viagem ao Brasil?

O Choro de Roberto Rosolem – Além do Mar

Na quietude abafada da Fazenda Santa Thereza, perdida no coração da província de São Paulo, um homem permanecia imóvel, os olhos fixos na terra vermelha que cobria seus sapatos gastos. Seu nome era Roberto Rosolem, e trazia nos ombros mais do que o peso de sua própria história — trazia a de uma geração inteira de homens e mulheres que haviam deixado tudo para trás em nome de um sonho.

Veio da Itália, como tantos outros, em busca de uma vida melhor. Deixou a aldeia, a casa humilde, o cão no quintal, e embarcou com a esposa, os filhos e a esperança. O que encontrou, porém, foi algo para o qual nenhum deles estava preparado.

A viagem foi uma travessia de tormenta. Durante quatro dias, as ondas chicotearam o casco do navio como se tentassem expulsá-los de volta para casa. No porão, o ar era espesso, os corpos amontoados, as crianças febris. Dormiam pouco, suavam muito. A cada nascer do sol, mais um olhar perdia o brilho, mais uma mãe apertava o filho contra o peito, temendo o silêncio súbito.

Quando finalmente desembarcaram em Santos, o ar parecia menos salgado, mas ainda carregado de incerteza. A primeira voz italiana que ouviram era seca, dura — e avisava: “Aqui, não é o paraíso.”
Na Casa da Imigração em São Paulo, a multidão era assustadora. Mais de dez mil almas dividindo espaço e desespero. Roberto caminhava entre famílias que dormiam em cima de mesas, crianças deitadas em chão frio, mulheres chorando nos cantos. Naquela noite, ele também chorou. E pela primeira vez, sentiu vergonha por ter trazido seus filhos ali.

Foram levados à Fazenda Santa Thereza dias depois. Ao chegar, encontraram tudo — menos abrigo. Amontoados com outras 138 pessoas em uma única casa, viveram seus primeiros dias sob calor, insetos e escassez. Não havia consolo. O que havia era perda.

Roberto, que embarcara com onze filhos, agora contava apenas cinco. Os demais ficaram pelo caminho, levados por febres tropicais, falta de atendimento, fraqueza.
Via os pequenos italianos da fazenda com os pés feridos, infestados por bichos, as pernas inchadas, o choro constante. O horror tomou-lhe o corpo inteiro. Ele, que queria construir um futuro, sentia-se agora culpado por cada passo daquela jornada.

Queria voltar. Gritava em silêncio para voltar. Se pudesse, desfaria o tempo, desceria do navio, abraçaria o cão que ficou. Preferia mil mortes na Itália a um só dia naquela América estranha e indiferente.

Mas ele permanecia. Porque ainda tinha filhos. Porque ainda tinha amor. E porque, mesmo sem querer, a vida insistia em continuar.

No final da tarde, sob a sombra fraca de uma árvore nativa, escreveu uma carta. Destinou-a ao patrão de outrora, o doutor Ferdinando Chisini. Não pediu dinheiro. Não pediu ajuda. Pediu orações.

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Pediu que rezassem por eles, os que ficaram. Para que tivessem saúde. Para que, quem sabe, um dia pudessem voltar para casa. Para que um dia, alguém soubesse o que viveram ali.
Não como números, mas como gente. Gente que chorou. Gente que sonhou. Gente que ficou.

Nota Final

Esta narrativa é a adaptação literária da carta escrita por Roberto Rosolem, um imigrante italiano que chegou ao Brasil em 1897. É a história de uma família que contou sua trajetória vinda da Itália, com suas emoções, expectativas, dores e também alegrias.

O conteúdo foi extraído do vídeo produzido pela Associação Trevisani nel Mondo e recriado com o auxílio da inteligência artificial, com o objetivo de trazer emoção a essa memória da imigração italiana no Brasil.

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