Um gertrudense daria uma verdadeira luz para Cordeirópolis nos anos 60. Luiz Beraldo, nascido em 10 de maio de 1921 em Santa Gertrudes, foi o prefeito que mudou o rumo da cidade ao enfrentar uma das maiores crises hídricas da época.
No dia 16 de junho de 1965, Beraldo sancionava a Lei Municipal nº 417. Pouca gente sabe, mas aquele documento marcou a história de Cordeirópolis: foi o passo decisivo para garantir abastecimento de água tratada à população, algo que até então era um desafio diário.

O plano para não deixar a cidade sem água
Na gestão de Luiz Beraldo, a água virou prioridade absoluta. Três vertentes foram pensadas:
- Poços artesianos em diversos pontos da cidade;
- Uma adutora ligando a represa do Cascalho ao centro urbano;
- A construção de três novas represas.
Ele defendia a ideia de aproveitar a força da gravidade para facilitar o escoamento, explorando a diferença de altitude entre a represa do Cascalho e o centro da cidade.
Em dias de chuva forte, Beraldo costumava observar os alagamentos na estrada do Barro Preto, onde o Ribeirão Tatu transbordava. A cada visita, reforçava em sua mente: aquele ponto tinha potencial para uma grande represa. E, anos depois, ele transformou a visão em realidade.
O empréstimo que mudou a história
Nos anos 60, Cordeirópolis crescia, mas o abastecimento de água não acompanhava o ritmo. A solução foi ousada: contrair um empréstimo milionário junto à Caixa Econômica do Estado de São Paulo.
O valor aprovado impressionava: Cr$ 21.552.064 (vinte e um milhões, quinhentos e cinquenta e dois mil e sessenta e quatro cruzeiros), uma verdadeira fortuna para a época. O objetivo era claro: captar, distribuir e oferecer água de qualidade para a população.

Em 1965, o Brasil vivia com uma inflação de cerca de 40% ao ano. Isso significava que o valor precisava ser aplicado rapidamente, antes que o dinheiro perdesse força de compra.
As condições do acordo
O contrato do empréstimo estabelecia:
- Prazo de 10 anos para pagamento;
- Juros de 12% ao ano;
- Garantia dada pelas taxas de abastecimento de água e até 50% da cota do Imposto de Consumo;
- Multa de 10% em caso de inadimplência.
Era uma aposta arriscada, mas necessária. Cordeirópolis não poderia se desenvolver sem resolver primeiro a questão da água.
Fiscalização e execução
As obras seguiram os projetos técnicos do Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de Serviços e Obras Públicas do Estado de São Paulo, que fiscalizava desde a abertura das valas até a conservação das estruturas.

Beraldo ou “Luizito”, como era chamado carinhosamente pelos moradores, governou Cordeirópolis de 1965 a 1969.
A represa do Barro Preto e o sonho de uma ilha

O desejo de represar o Ribeirão Tatu ganhou forma na Represa do Barro Preto.
Anos mais tarde, um projeto de lei de autoria da ex-vereadora Mariana Fleury Tamiazo (PL nº 50/2021) oficializou o nome da represa como “Luiz Beraldo”, homenagem a quem idealizou a obra.
Quando construiu a represa, Beraldo acompanhou de perto as máquinas trabalhando: caminhões, moto-niveladoras, pás-carregadeiras. A poeira levantada anunciava o progresso. Em seus planos, ele chegou a sonhar com uma ilha artificial no centro da represa, equipada com lazer, pedalinhos e restaurante. Hoje, tomada pela vegetação, essa ilha é um vestígio desse sonho.
A represa foi inaugurada em 1968 junto com quem seria o seu sucessor, Teleforo Sanches. E a inauguração ficou marcada não por egos políticos, mas por união: os dois celebraram juntos com a população. Luizito mergulhou na água represada ao lado de autoridades e convidados. Uma área de aproximadamente 7 alqueires que nascia para abastecer a cidade e principalmente atender às indústrias, que pressionavam por soluções diante da escassez hídrica.
Um divisor de águas
A aprovação da Lei nº 417 foi o que permitiu a modernização do sistema hídrico de Cordeirópolis. A cidade não apenas garantiu qualidade de vida à população, mas também se preparou para crescer com segurança.
Foi, de fato, um divisor de águas no sentido literal e no histórico.
Mensagem
“Entre sonhos e concreto, a represa nasceu — e com ela a certeza de que a água sempre guiou o destino de Cordeirópolis.”
E aqui entra você!
O Tá no Arquivo resgatou esse documento histórico, mas ainda restam perguntas sem resposta:
- Como foram as primeiras obras de encanamento na cidade?
- Quais bairros receberam água primeiro?
- Como os moradores viveram essa transformação?
Se você tem fotos, lembranças ou relatos, compartilhe conosco. Sua memória pode completar esse capítulo essencial da história de Cordeirópolis.